TEOREMA I
Para tudo aquilo que consideramos um “inteiro homogêneo” é de sua natureza intrínseca ser “pedaços heterogêneos”. Não há nada na natureza ou nas coisas que não possa ser dividido, fragmentado. Todo inteiro é composto por partes. Partes heterogêneas, pois o próprio átomo é formado por nêutrons, elétrons e prótons.
ESCÓLIO I
Somos todos – humano, animal, vegetal, mineral – partes de um todo. Deus é uno, composto por muitos.
Qualquer coisa pode ser considerada sob dois ângulos, dependendo da maneira como observamos. Podemos observar uma coisa e dizer o que ela é na sua totalidade, como forma individual e nominada. Podemos, também, observar uma coisa e percebê-la um conjunto de outras coisas que associadas representam uma forma.
Por exemplo, uma reta.
Suponhamos uma reta de trinta centímetros riscada em um caderno. Para qualquer um que se depare com esta figura concluirá se tratar de uma reta de trinta centímetros. Porém, alguns dos observadores poderão concluir se tratar de algumas dezenas de pontos enfileirados sob uma mesma direção de trinta centímetros ocupando um plano espacial. Os dois estarão corretos, apesar deste último, em minha opinião, definir com maior precisão a situação apresentada, já que qualquer reta tem inicio a partir de um ponto.
Em situações mais concretas podemos usar o exemplo da porta. Qualquer pessoa sabe o que é uma porta. Existem portas de todos os tipos, tamanhos e formatos, mas qualquer pessoa que esteja diante de uma, por mais diferente que seja conseguira defini-la como porta.
A definição do objeto esta em nossa mente de maneira que consideramos este substantivo (porta) como um objeto inteiro e definido. Por outro lado, todos nos sabemos, que este “objeto completo” na verdade é um conjunto de várias outras coisas que também podem ser tomadas separadamente como objetos completos. A porta antes é formada por madeira, pregos, cola, metal, fechadura, trincos, dobradiças e em última analise átomos. Cada coisa pode ser encontrada separadamente e concluída como “objeto inteiro”, mas separadamente não conclui uma porta. Tal conclusão só ocorre quando unimos todos estes elementos para dar a forma denominada de porta.
Quero dizer que tudo por mais que pareça completo e homogêneo é anteriormente formado por pedaços geralmente diferentes uns dos outros, isto é, pedaços heterogêneos, mas que da sua união dão origem a um objeto aparentemente homogêneo.
Olhe ao redor e faça a experiência. Para qualquer coisa que olhar perceberá serem formadas por partes menores e bem diferentes umas das outras, mas observada na totalidade podemos nominar como coisa única.
E, não se limita as coisas materiais.
Um sentimento é formado por vários outros que juntos definem um único. O amor, por exemplo, não pode ser definido com clareza, pois na verdade, é a união de: prazeres, satisfações, importâncias, pessoalidades, egoísmos, altruísmos, remorsos, culpas, reparações, enfim, um apanhado de sentimentos que juntos tomam a forma do amor.
Qualquer sentimento segue este esquema.
A sensualidade mesma coisa. Refiro-me sensualidade tudo aquilo que conseguimos sentir a partir da composição corpo e pensamento. A dor de uma queimadura, por exemplo, começa na pele lesionada onde ocorre uma enxurrada de mecanismos bioquímicos, atinge o sistema nervoso que processado em nosso espírito imprime uma sensação que nem se sabe se é igual para todos.
Tudo considerado por inteiro, antes é parte.