Ela está viva,
Estridentes zunidos de uma mecânica arrogante anunciam,
Seu movimento errante pelos mais variados e incrédulos territórios do mundo,
Impondo sua presença como certeza de domínio.
Suas múltiplas pernas rasgam o ar,
Em uma dança prudente e eficaz,
Cada perna simétrica, se levanta, se abaixa, em ritmo cadente, em balé sagaz,
Desdenha do solo, da carne, do substrato, do espaço,
Não há obstáculo,
Para sua obstinada peregrinação.
Não há criatura na Terra que lhe escape,
Seu imponente corpo mecânico, atracado, calculado, voluptuoso,
Feito de aço inexorável,
Múltiplos mecanismos impostergáveis,
De entranhas, linhagens, fios, correias, catracas perpetuáveis,
Consome, engole, aprisiona o que vier pela frente.
Ela, em seu movimento impertinente,
Rasga estradas, fere as feras,
Afugenta o dia, ilumina a escuridão,
Faz da gente escravidão,
Ao mesmo tempo que com servidão,
Afaga nossos corações.
Com sua teia energética, enigmática, envolvente,
Nos seduz, emociona, mas também: mata,
De amor, furor e vontade de estar,
Cada vez mais dentro de suas entranhas.
Essa máquina,
Essa aranha,
Define, destrói, escolhe, constrói,
E não cansamos de gritar o seu nome,
De chamá-la: sociedade.