CONSIDERAÇÕES SOBRE O MUNDO SENSÍVEL E MUNDO INTELIGÍVEL


A compreensão sobre a existência destes dois mundos é bastante complexa e requer uma reflexão e análise cuidadosa. Mas, garanto que após alcançar este entendimento inevitavelmente surgirá a verdade sobre muitas coisas, como uma descoberta de algo que sempre esteve lá, encoberto.

Creio que todo ser humano busca explicação para os mistérios e dúvidas existenciais, como também solução para seus conflitos pessoais e interpessoais.

A revelação e harmonia desta procura pode ocorrer de diversas maneiras, isto é, através da religião, da filosofia, do trabalho, da arte, da abnegação.

Mas, apenas a ciência sobre os processos pelos quais o ser humano existe e interage com o mundo pode de modo concreto e verdadeiro revelar os mistérios da vida.

Ainda que a ciência não seja capaz de decifrar todas nuances e disposições da existência, certamente ela confere as bases do projeto original, de maneira que tais subsídios, ainda que mínimos, dão forma ao conceito. Tais conceitos baseados em constatações da realidade aproximam-se muito mais da verdade do que qualquer outro meio.

Desta maneira, importa-me discorrer sobre o sensível e inteligível. Dois conceitos tão antigos quanto Platão, na minha opinião, são capazes de explicar o fenômeno “existir” segundo a concepção humana.

Diz-se sensível de todas as coisas materialmente existentes. A matéria em todas as formas e estados físicos. Tudo aquilo que, de qualquer modo, pode ser observado, estudado ou percebido fisicamente.

A denominação “matéria” neste caso, tem sentido lato, ou seja, a matéria propriamente dita representada, por exemplo, pelo átomo e seus componentes; as ondas energéticas como a luz ou o rádio e; as forças naturais, como o eletromagnetismo ou a gravidade; enfim, todo objeto externo à alma humana, que tem existência própria, independente do homem.

Diz-se sensível pelo fato do conhecimento da matéria ocorrer a partir dos sentidos inatos do homem. Tudo que existe de alguma maneira afeta o corpo humano. A matéria percorre nossos sentidos de maneira a tornarem-se conhecidas ou reveladas no pensamento.

Sendo assim, quando digo mundo sensível estou me referindo ao mundo da matéria que é anterior ao homem. Aquela que existe e subsiste por causa da natureza.  A designação sensível refere-se ao meio pelo qual esta matéria ganha sentido cognitivo.

Ainda que a matéria não seja observada diretamente, criamos aparelhos sensíveis capazes de perceber, por exemplo, a curvatura do espaço-tempo. Tais aparelhos por mais sofisticados que possam ser têm como fundamento básico algum dos cinco sentidos humanos: visão, audição, olfato, paladar ou tato. Pois, por maior que seja a tecnologia empregada, ao final, a constatação da matéria será introjetada na consciência do homem através de algum dos sentidos básicos.
Ademais, todos aparelhos criados pelo homem possuem como supedâneo a sensibilidade humana, na verdade, é uma maneira de potencializar nossos sentidos inatos.

Um telescópio de longo alcance é uma potencialização da nossa visão. Um aparelho cirúrgico com micro-câmeras e pinças é uma potencialização da nossa visão somada ao tato. Um acelerador de partículas é o meio pelo qual possibilita o homem perceber, a partir dos sentidos, os efeitos oriundos da aceleração. Uma simples batedeira é a pontencialização do nosso tato e força muscular, e assim por diante.
Quando dizemos que um aparelho é sensível estamos nos referindo a sua precisão, pelo fato de proporcionar com bastante fidelidade aquilo que desejamos sentir do objeto.

Mundo sensível, portanto, é o mundo da matéria que de alguma maneira “sentimos” e, deste modo, apesar de existir independente do homem o conhecimento da sua existência está atrelada a capacidade do homem percebê-la através da sensibilidade natural e inata. A partir da relação de finitude e concretude que os objetos guardam entre si.

Por outro lado, existe o mundo inteligível, oriundo do entendimento que o objeto externo imprime na alma humana. É formado, também, pelos objetos internos, cuja gama inominável é responsável pelos mais diversos sentimentos, como, por exemplo, o amor, o ódio, a alegria, a tristeza e milhares de outros objetos internos.
O mundo inteligível é recheado de fantasias e imagens inconscientes, além de definições e conceitos da razão. Conceitos que existem apenas no raciocínio humano, mas que são tão recorrentes e comuns que passamos considerá-los como parte da realidade. Temos, por exemplo, as horas, os dias, a matemática, etc. Não nos damos conta que determinados objetos existem tão-somente no pensamento.

Inteligível é aquilo que pertence ao domínio da inteligência, tudo que se pode entender, coisas que são claras e perceptíveis por causa do pensamento. Toda matéria

A realidade e a fantasia, no viver humano, são fenômenos tão interligados e interdependentes que, muitas vezes, parece impossível separar uma da outra, de maneira que fundem-se no pensamento dando cor a realidade como se a realidade tivesse mesmo aquela cor.