Penso que a dialética é o fenômeno cognitivo mais relevante para o desenvolvimento, manutenção e preservação da espécie humana, a ponto de afirmar que foi o fator decisivo para nossos antepassados primitivos desenvolverem a inteligência.
Penso que dialética é embate, conflito, discordância contumaz entre idéias cujo único e necessário efeito é o surgimento de uma nova idéia.
Na sociedade humana convivemos com indivíduos particularmente diferentes uns dos outros, pessoas que exaltam e necessitam demonstrar serem dotadas de uma personalidade única. Temos que provar nossa existência a partir da condição única e exclusiva que julgamos ter em nosso raciocínio e personalidade, de maneira que haverá, naturalmente, e, em primeiro contato com qualquer outro ser, uma discordância, seja como mecanismo de defesa para preservar a integridade física, seja como preservação da integridade psicológica pela imposição da existência impar.
O receio do outro é uma forma de preservação individual, ao mesmo tempo, que a conclusão da não-destruição redunda em adição, soma de conhecimento, de maneira a aumentar a preservação da própria espécie.
Empiricamente entendo que as pessoas, no primeiro instante, discordam umas das outras em ação e raciocínio dando margem a milhares de julgamentos morais, éticos, dos sentimentos piores e maiores, maléficos e benéficos. Normalmente, há discordância de no mínimo um ponto sobre qualquer assunto que se ponha em pauta entre duas pessoas. Mesmo quando existe confluência de idéias acerca de um assunto cada qual terá um modo particular de sustentar o raciocínio de maneira que em algum detalhe haverá discordância.
O fato de discordarmos em pensamento representa, exatamente, o fato gerador de uma mudança da realidade através do surgimento de uma nova idéia, pela reconfiguração dos elementos contrários em encontrar uma razoabilidade.
Não há mudança sem discordância. Se houvesse uma concordância ampla e geral sobre as coisas não precisaria que elas fossem alteradas, pois não se mexe em algo que todos concordam.
Portanto, o elemento essencial para o progresso está nos contrários, naquilo sobre o qual não existe consenso, naquilo que pela discordância precisa ser mudado.
O consenso é o resultado da discordância que, futuramente, gerará nova discordância para surtir novo conceito e consenso. E assim, indefinidamente. A isso atribuo à dialética.
A dialética, na minha maneira de pensar, é o embate das idéias que por sua característica de contrariedade impõe ao homem pensar de forma diferente e, para apaziguar o espírito, encontra o meio termo do conceito.
A defesa de uma idéia de forma radical leva ao fanatismo ilimitado de modo que será pernicioso para o grupo que se submeterá à idéia. Porém, para o homem em geral será benéfico, na medida em que a maioria discordando desta posição sectária e fanática criará um conceito novo sobre estas mesmas idéias. A partir disto são criadas Leis com supedâneo e característica de princípios fundamentais do Homem.
Quanto maior ou extrema for a dialética, maior será o progresso sobre o conceito, conseqüentemente, o homem alcança maior desenvolvimento.
O Progresso Geral que nasce do pensamento harmonioso depende do embate e discordância das idéias particulares espalhadas pelos milhões de nichos humanos.