No principio, criou Deus os céus e a terra. Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os repteis que rastejam pela terra...
Este ensinamento religioso só não mencionou domínio sobre o próprio homem, o que ocorreu há milênios e, ainda, continua ocorrendo...
Era uma vez na Ilha de Vera Cruz...
No inicio foram os índios. Nossos colonizadores quando aqui chegaram tentaram dominar os indígenas. Nossos irmãos lusitanos queriam escravizar homens nativos da terra que acabará de invadir. Não conseguiram.
Detinham as melhores armas, exército organizado, mas desconheciam o habitat natural dos índios, uma selva inóspita, cheia de segredos e esconderijos, animais selvagens, doenças tropicais, em suma, um campo de batalha extremamente desfavorável. Motivo pelo qual escravizar índios era uma atitude perigosa e dispendiosa.
Encontraram uma alternativa melhor. Retiram milhares de pessoas do continente africano através de muita luta, força e sanguinolência. Trouxeram todos eles amontoados e acorrentados em grilhões nos fundos dos navios negreiros. Estavam expostos a toda sorte de doenças, maus-tratos, falta de higiene e condições deploráveis. O transporte dessa “res” (coisa) - como eram denominados os negros – era armazenada em condições piores que os animais. Defecavam e urinavam no local do confinamento, tinham parco alimento e água, mortos dividiam o mesmo espaço com os vivos. Tudo isto, em uma viagem que levava meses.
Quando pisaram à terra firme agradeceram, pois depois de conhecerem o inferno aquilo era o paraíso.
Mas, era um mundo estranho. Estavam a milhares de quilômetros da sua terra natal. Tudo era diferente e assustador. Não era apenas uma ilusão do pensamento, aquela terra realmente era perigosa. Os negros que tentaram fugir e se embrenharam na mata em poucas horas ou dias morreram. Não havia saída. O oceano de um lado e a selva monstruosa de outro. Tiveram que se submeter aos “senhores brancos”.
O “Branco”, por sua vez, geração após geração, subjugou os negros, aproveitando-se da condição de alienígenas fragilizados quis impor em suas mentes a impotência, incapacidade e o dever de subordinação. Através de cruéis torturas e submissões escravizou o negro tolhendo sua liberdade física. Porém, jamais dominaram, prenderam ou controlaram sua intelectualidade. Ao contrario, fomos por eles dominados.
Todas as formas de coerção não foram suficientes para restringir o pensamento dos negros, de maneira que expressaram suas idéias a ponto de influenciar na arte, música, religião, costumes, folclore, política, culinária, dança e centenas de outros pontos da sociedade.
O Dia da Consciência Negra não é para os negros, mas para os brancos se conscientizarem, ainda que a contragosto, do importantíssimo legado que a cultura negra forjou em nossa sociedade. O quanto contribuiu para uma identidade nacional baseada na miscigenação, na qual negros e brancos se fundem criando uma nova etnia, conhecida como população brasileira.