O MITO

MITHÓS

O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo.
- Fernando Pessoa -

 O mito é importante para a coesão e organização da espécie humana. É uma estrutura fundamental na preservação da espécie e seu aprimoramento, funcionando como elemento permanentemente unificador e, ao mesmo tempo, criador de idéias díspares que impõem uma constante renovação no pensamento ideal.
Penso que as pessoas, umas mais que outras, precisam de referências, parâmetros, paradigmas exteriores ao seu conhecimento empírico para compor o caráter personalíssimo.
Criamos na sociedade modelos de pensamentos que são transmitidos geração a geração de maneira a estabelecer uma conduta moral e social relativamente estável. Conduta esta atribuída de certa rigidez que tem como objetivo manter a paz e tranqüilidade. Mas, esta medida de rigidez é proporcional ao tempo em que se aproxima da data de origem da criação do mito. Quanto maior a distância da criação do mito, maior será a flexibilização do pensamento, de forma que mudanças comportamentais “exóticas” passam ocorrer com bastante freqüência. Porém, a sociedade para manter a conduta  “certa” - do ponto de vista da seleção natural já que o ser humano persiste em função destas condutas – remonta o mito por outras perspectivas de maneira a sempre resgatar a tranqüilidade considerada ideal.
Qualquer tentativa em subverter a forma do mito será considerada perigosa, nefasta. Uma ameaça real para a compreensão dos pensamentos coletivos, que poderão transformar-se e afastar-se da tranqüilidade considerada ideal.
Mas, isto é um embate inevitável, pois as gerações que se afastam da idade inicial do mito naturalmente se desprendem e alteram os antigos mitos com suaves adaptações que apesar de não perceptíveis são extremamente significativas.
A alteração do mito traz um desenvolvimento excepcional para uma nova compreensão, de modo que a conduta do homem sofre nuances de transformação, cujo produto final resulta em novos tratamentos para problemas antigos. Tratamentos muito mais justos e adequados.
Assim, a antiga geração se esmaece pensando cair no ostracismo, momento em que a nova geração revitaliza o antigo mito em formas atuais e presentes para dar continuidade a exploração inédita do pensamento até esvaecer em uma nova  geração.
O mito do “fim do mundo” é exatamente um marco da alteração de antigos mitos e consolidação de nova geração que trará antigos mitos renovados. Trará, também, novas condutas humanas, até um próximo “fim do mundo”.
Porém, mesmo novas gerações não abandonam antigos mitos porque, alguns deles, são tão necessários que se abandonados a sociedade entra em colapso.
Podemos considerar que até mesmo na Ciência existe o mito, que por vezes atrapalha a verdadeira descoberta. Mas, como a Ciência é “por mito” o questionamento contínuo da realidade, sempre haverá aquele que por repetição da causa-efeito ou dedução lógica alcançara novas explicações para antigos fatos e criará novos mitos a serem futuramente alterados.