Durante meus anos de vida conheci muitos tipos diferentes de pessoas. Cada qual com seus pensamentos, peculiaridades, manias, características, pontos de vista, humores, personalidade, enfim, vicissitudes próprias de cada um. Entretanto, nesta seara de diferenças que individualizam cada ser encontrei persistentes semelhanças, comuns a toda e qualquer pessoa de modo que se revelaram como o traço marcante da espécie, independente de raça, idade, sexo, credo ou cor.
Entre as várias igualdades que caracterizam a espécie uma que sempre me chamou a atenção é A MENTIRA.
Constatei que a mentira é um traço humano que começa desde a mais tenra idade e acompanha o ser até sua morte. Parece-me que quanto mais próximo da morte há uma tendência na diminuição deste atributo humano, mas, há casos em que permanece constante.
Inicialmente distingui duas formas gerais de mentira. Uma a mentira mentirosa e outra a verdade mentirosa.
QUANTO A FORMA
A mentira mentirosa é aquela em que a pessoa cria um fato que não existe. Por outro lado, a verdade mentirosa é aquela que a pessoa cria e altera elementos de um fato que existe.
Continuando minha investigação sobre a mentira quis entender os motivos de este atributo estar tão presente na espécie humana. E assim conclui quatro, os quais agrupei sobre o seguinte aspecto:
QUANTO A FINALIDADE
- a mentira da infração ou infracional – penso que este tipo de mentira ocorre quando a pessoa comete um erro e não quer suportar as conseqüências. Este erro pode ser legal ou moral, isto é, a pessoa age contra a Lei (o Direito Positivo) ou age contra uma determinação moral (individual ou coletiva). A mentira será proporcionalmente maior na medida da importância legal ou moral do ato praticado. Exemplo: cometer um crime e negar autoria; cometer adultério e negar; quebrar o vaso e negar.
- a mentira da auto-estima – é uma mentira bastante comum. Existe como forma de defesa contra a impotência. Aquele sentimento de não possuir, deter ou conseguir poder. Ser mais um entre milhões, sem qualquer plus ou glória, ser pequeno e desprovido de todo glamour que idealizam importante para ser aceito. Pessoas inseguras que temem a própria capacidade geralmente usam desta mentira. Exemplo: ser o(a) mais sexy e desejado(a); ter muito dinheiro; ter muito poder; ter habilidades excepcionais.
- a mentira da pretensão – pessoas que tem um objetivo bastante definido a alcançar. Pessoas que lançam mão deste artifício como meio possível e viável para objetivos bem definidos que já se concretizaram, estão se concretizando ou se concretizarão. Este tipo de mentira tem diferentes intensidades que variam entre pequena, média e grande. Exemplo: estelionatários; faltar ao serviço; adquirir status social; adquiri dinheiro ou prestigio.
- a mentira da reparação social – tem como objetivo normalizar, equacionar ou otimizar as relações sociais. São usadas, geralmente, para convalidar ou justificar um ato. Denominadas comumente como desculpas. Exemplo: não participar ou comparecer a um evento social ou reunião familiar; abster-se de dizer coisas que poderão “ofender” o outro; dizer coisas amáveis a alguém quando pensa o contrário.
QUANTO AO CONTEÚDO
Entendo que a mentira apesar das suas milhares de facetas, estórias que a mente humana criativa pode ser capaz de compor sempre versa sobre dois aspectos predominantes.
As estórias podem ser classificadas em duas vertentes ainda que haja uma variação numerosa.
São estórias sempre comoventes ou extraordinárias.
Comoventes quando o cerne da mentira tenta convencer através dos sentimentos de complacência, tristeza, compreensão, solidariedade, amizade, etc.
Extraordinários quando o cerne da mentira esta nas glorias, conquistas, poder, vantagem, superioridade, etc.
QUANTO AO EFEITO
A mentira, apesar de não real, tem força de alterar a realidade, seja através daqueles que ingenuamente acreditam ou por aqueles que precisam e querem acreditar.
Muitas pessoas por sinceridade acreditam em mentiras; mas há pessoas que precisam acreditar em mentiras, pois traz esperança e felicidade; há pessoas que querem acreditar em mentiras na idéia em conseguir vantagem.
De qualquer modo, a mentira atua eficazmente na realidade a ponto de, em muitos casos, alterá-la.
QUANTO AO LIMITE
Sustentar uma mentira é das tarefas a mais difícil. Contar uma mentira é fácil, basta transitar com facilidade entre o certo e o errado, isto é, ter uma relação tranqüila com a moral estabelecendo limites bastante flutuantes.
Pessoa conservadora de moral rígida, inflexível, tem grande dificuldade em mentir, muito mais em sustentar a mentira, então preferem não mentir. São mais suscetíveis em acreditar nas pessoas, mas são bastante perspicazes em identificar os mentirosos.
Pessoas agressivas, que mentem normalmente, têm moral flexível, tendem a desconfiar de todos, porém são mais suscetíveis a acreditar nas mentiras.
A sustentação da mentira por longo tempo é difícil, portanto sempre haverá um momento em que a verdade prevalecerá.