MOVIMENTO PASSE LIVRE

Porque a reivindicação sobre a tarifa do ônibus tomou proporções grandiosas?

Uma pergunta que, talvez, muitos fizeram, sem entender ao certo a mobilização alcançada.

Eu tenho uma opinião na qual encontro a resposta.

Penso que alcançou tão elevada comoção por causa do trinômio: liberdade, ruptura, patriotismo. Vou explicar.

Quando falo em liberdade não me refiro, apenas, ao Estado Democrático de Direito onde cidadãos têm o direito de expressar suas insatisfações, mas, sobretudo, ao direito de ir e vir protegido pela Constituição Federal e, ponto central, da reivindicação do Movimento Passe livre.

A Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso XV diz que é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz.

A Constituição, como todos sabem, é a Lei Maior que confere os princípios pelos quais o povo brasileiro considera como fundamentais na coesão da nossa nação. São direitos que elegemos, entre todos os outros, como principais e essenciais para existirmos como um ente social com tranqüilidade e segurança. Direitos que queremos para nós, nossos filhos e amigos. Direitos que não admitidos ser violados, pois estaria aviltando nossa própria identidade e individualidade.

A livre locomoção no território nacional representa uma face da liberdade, e, só poderá ser plenamente alcançada se o Estado garantir e fornecer a locomoção. Pense comigo.

Nós vivemos em um território geograficamente amplo. A distância entre o ponto em que nos encontramos e o ponto em que queremos chegar, muitas vezes, é enorme. O esforço físico despendido nesta tarefa é grande. Alem disto, vivemos em cidades com limites e obstáculos, o que dificulta nossa vontade de alcançar determinado lugar.

Além disto, temos milhares de necessidades que devem ser supridas pelos equipamentos que este território-limite nos oferece. Para nos sentirmos completo precisamos de escolas, hospitais, academias, lojas, shoppings, prédios, bares, órgãos públicos ou particulares, cinemas, enfim, para nos sentirmos livres para exercermos nossa individualidade plena necessitamos usufruir de uma infindável estrutura de equipamentos “sociais” que existe na cidade. Portanto, temos que alcançar estes equipamentos, o que só é possível pela locomoção. A locomoção, então, nos confere a liberdade de sermos um individuo com vontade de agir e usar os meios para consecução da ação. No caso de não alcançarmos o equipamento necessário a nossa necessidade passamos a ser tolhidos da vontade e, conseqüentemente, sem liberdade de expressar nosso ser na plenitude.

Este direito a locomoção, portanto, não pode ser privilégio de uma pequena casta de pessoas, como, por exemplo, as pessoas que tem automóveis próprios. Não. Porque estaríamos concedendo liberdade apenas a uma pequena parcela da população, isto é, a casta economicamente abastada. Os menos afortunados seriam tolhidos da sua liberdade na mesma proporção que não conseguissem se locomover pelo espaço.

Uma pessoa que necessitasse de um hospital, pois em condição enferma e, portanto, no ápice de destruir sua vida e, conseqüentemente sua liberdade, não conseguir alcançá-lo por limite da sua condição financeira em pegar um ônibus é a mesma coisa que dizer que o Estado tolheu sua liberdade e forçou morrer sem auxilio.

O Estado, a partir do momento que criou os limites da cidade tomou para si a responsabilidade de cuidar dos direitos fundamentais das pessoas que estão confinadas dentro de si, como maneira de entender que essas mesmas pessoas devem subsistir como forma de manutenção da existência dele próprio (Estado) deve, então, responsabilizar-se pela liberdade individual de cada componente como forma de preservar o conjunto.

A liberdade de locomoção dentro dos limites do próprio Estado é forma fundamental de assegurar a liberdade de seus componentes. Por isso, o Movimento Passe Livre defende o direito gratuito da locomoção dentro dos limites da cidade como forma de assegurar a liberdade individual. Se não pode ser de graça que ao menos seja um valor razoável, capaz de estender e assegurar este direito à grande maioria da população, principalmente os menos afortunados.

Isto entendo como o primeiro elemento do trinômio: liberdade.

O segundo é ruptura. Entendo como ruptura essa nova geração que vem com melhor entendimento sobre a mecânica social e consegue compreender os direitos e deveres de uma sociedade com mais pertinência, de maneira que, pessoas com pouca idade defendem questões tão complexas que pareciam ser exclusividade dos mais “velhos e experientes”, quando na verdade essa “juventude” mostra o contrario, ou seja, com o frescor e ímpeto de suas novas defesas sobre concepções antigas perpetuam a mudança constante que deve ocorrer na sociedade.


Patriotismo. O Brasil amadurecendo politicamente de maneira que seus cidadãos mais conscientes estão começando a, realmente, tomar o poder nas mãos, no sentido democrático, e estabelecer aquilo que é melhor para NOSSA sociedade.