A FOFOCA COMO MEIO DE CONTROLE INTERNO E EXTERNO - PARTE II

Quando digo sobre controle interno e externo, me refiro ao ato social de delimitarmos as ações individuais segundo uma norma geral de convivência e atitudes. Um regramento moral instituído por lei ou costume.

A lei dos costumes é exatamente aquela que se solidificou ao longo de centenas de anos como, dentre todas as regras, aquela mais apropriada para o ser humano se comportar dentro da comunidade. A lei dos costumes é forte e deve ser respeitada sob pena do infrator ser punido pelo desprezo social ou por leis positivas e escritas.

Algumas leis morais não são escritas (é costume), mas todos as consideram válidas, haja vista, a desobediência causar efeito devastador no conceito do individuo perante a sociedade. E uma coisa que tentamos preservar com afinco é justamente nosso bom conceito pelos outros.

Você, leitor, pode não ter posses, condições financeiras, grande inteligência ou cultura, mas, certamente, não abre mão de ter um bom conceito sobre si na visão dos outros. Sempre se defenderá elevando seu caráter e altruísmo baseando-se numa medida imposta pelo próprio grupo social, onde ciente das avaliações e considerações do grupo humano a que pertence pode medir o quanto é uma pessoa boa ou ruim.

Sendo a pessoa voltada a imoralidade e ilegalidade, medirá, junto ao seu grupo, a quantidade de respeito que impõe pela força, pelo medo, pela tirania, mas, inevitavelmente, criará códigos de normas morais para, ainda que na ilegalidade, ser considerado justo.

Em suma, o conceito que tem de si próprio está diretamente atrelado ao conceito geral do grupo ao qual pertence.

 Nisto digo que a fofoca exerce controle interno e externo.

A fofoca é formadora de conceitos. Criamos conceitos sobre as outras pessoas e recalculamos conceitos sobre nós mesmos quando exploramos a vida ou atitude dos outros, principalmente os outros que convivem próximos.

Nossos conhecimentos e entendimentos morais se formam a partir da avaliação da atitude do outro, onde através da comparação do que foi feito (pelo outro) e do que faríamos (de nós mesmos) concluímos uma sentença transitada em julgada e carregada de certezas morais.

Portanto, as Sentenças que exaramos sobre a vida dos outros são Acórdãos sobre nossa própria vida. 

A fofoca faz parte desta dinâmica da formação de conceitos gerais e individuais.

Digo que faz controle interno quando esta característica humana exerce um controle social no âmbito das relações íntimas, naquelas em que se vive o cotidiano do trabalho da família incluindo os parentes próximos ou distantes (mas parentes), amigos, vizinhos.

Digo que faz controle externo quando esta característica humana acontece em meio distante do nosso círculo, isto é, quando se passa com personalidades da televisão, da política, dos artistas, dos outros países, enfim, longe do nosso convívio íntimo.

Digo controle pelo fato de ser auto-regulamentação social originário, ou seja, criador de conceitos próprios comuns à um determinado grupo humano, naquilo que consideram certo ou errado. Penso que a fofoca tem essa função delatora e organizadora. Ainda que seja usada de forma negativa, onde só se quer prejudicar o próximo, toma contexto e disseminação tal de maneira que todos os envolvidos sofrerão uma avaliação coletiva e aquele que estiver com a razão (dentro do conceito da comunidade) será salvo e o outro execrado. De qualquer forma, houve um controle social das atitudes humanas.

Não sei se consegui me fazer entender sobre o significado que proponho sobre esta característica humana, mas, assim está posto. Não pretendo fazer uma defesa ou ataque, tão-somente, expor meu entendimento sobre esta característica da espécie e sua funcionalidade social.

Adiante explicarei as classificações que elaborei.


A fofoca propriamente dita, com suas feições claras e distintas pode dividir-se em inventadas, meias-verdades, verdades ou invasivas, porém, são todas fofocas.

Isto ficará para mais adiante.