VICENT VAN GOGH

A genialidade de Vincent Van Gogh somente foi reconhecida após a sua morte. Em vida, o artista holandês, que passou fome e frio, viveu em barracos e conheceu a miséria, vendeu apenas uma pintura _ "O Vinhedo Vermelho". Em maio de 1990, uma de suas mais conhecidas obras, "O Retrato de Dr. Gachet", pintado um século antes, justamente no ano de sua morte, foi comercializado por US$ 82,5 milhões.

Maior expoente do pós-impressionismo, ao lado de Paul Gauguin e Paul Cézanne, Vicent Willen Van Gogh, foi sempre sustentado pelo irmão Theodorus

Na sua fase mais produtiva (1880/90), Van Gogh foi completamente ignorado pela crítica e pelos artistas.

Vincent nasceu em Zundert, uma cidade próxima a Breda, na província de Brabante do Norte, nos Países Baixos. Era filho de Theodorus, um pastor da Igreja Reformada Neerlandesa (calvinista), e de Anna Cornelia Carbentus. Recebeu o mesmo nome de seu avô paterno e também daquele que seria o primogênito da família, morto antes mesmo de nascer exatamente um ano antes de seu nascimento. Especula-se que este fato tenha influenciado profundamente certos aspectos de sua personalidade, e que determinadas características de sua pintura (como a utilização de pares de figuras masculinas) tenham sido motivadas por isso. Ao todo, Vincent teve dois irmãos: Theodorus, apelidado de Theo, e Cornelius; e três irmãs: Elisabeth, Anna e Willemina.

Vincent era uma criança séria, quieta e introspectiva. Desenvolveu através dos anos uma grande amizade e forte ligação com seu irmão mais novo, Theo. A vasta correspondência (mais de 750 cartas) entre Theo e Vincent foi preservada e publicada em 1914, trazendo a público inúmeros detalhes da vida privada do pintor, bem como de sua personalidade. É através destas cartas que se sabe que foi Theo quem suportou financeiramente o irmão durante a maior parte da sua vida.

Na infância aprendeu inglês, francês e alemão. Mas, com apenas 15 anos, deixou os estudos para trabalhar na loja de um tio, em Haia (Holanda).

Aos 16 anos, por recomendação de seu tio começou a trabalhar para um comerciante de arte estabelecido na empresa Goupil & Cie. 

Quatro anos depois foi transferido para Londres, e depois para Paris.

No entanto, Vincent estava cada vez mais interessado em assuntos religiosos, e acabou sendo demitido da galeria. Ele então decidiu retornar à Inglaterra para fazer um trabalho sem remuneração. Durante o Natal, Van Gogh retornou para casa e começou a trabalhar numa livraria. Ele ficou seis meses no novo emprego, onde gastava a maior parte de seu tempo traduzindo a Bíblia.

Em 1877 sua família mandou-o para Amsterdã, onde morou com seu tio Jan. Vincent preparou-se para os exames de admissão da Universidade de Teologia com seu tio Johannes Stricker (teólogo), mas fracassou. Mudou-se então para a Bélgica, e novamente fracassou nos estudos da escola Missionária Protestante. Em 1879, ainda na Bélgica, começou um trabalho temporário como missionário em uma comunidade pobre de mineiros.

Em 1880, Vincent decidiu seguir a sugestão do seu irmão Theo e levar a pintura mais a sério. Ele partiu para Bruxelas para tomar aulas com Willem Roelofs, que o convenceu a tentar a Academia Royal de Artes. Lá ele estudou um pouco de anatomia e de perspectiva.

Em 1881, Van Gogh mudou-se com a família para Etten, onde ficou amigo de Kee Vos-Stricker, sua prima e filha de Johannes Vicent Stricker. Ao pedi-la em casamento, ela o recusou com um enérgico "nunca". Porém, Van Gogh insistiu em sua idéia, o que gerou conflitos com seu pai. No final do mesmo ano, Vincent partiria para a Haia.
Na Haia, ele juntou-se a seu primo, Anton Mauve, nos estudos de arte. Envolveu-se com uma prostituta grávida e já mãe de um filho, conhecida como Sien. Quando o pai de Van Gogh soube do relacionamento do filho, exigiu que ele a abandonasse.

Em 1883, mudou-se para Nuenen (Holanda) onde se dedicou à pintura. Lá se apaixonou pela filha de uma vizinha, Margot Begemann. Decidiram se casar, mas suas famílias não aceitaram o casamento, o que fez com que Margot tentasse o suicídio.

Em março de 1886, Van Gogh mudou-se para Paris, onde dividiu um apartamento em Montmartre com Theo. Depois, os dois se mudaram para um apartamento maior na Rue Lepic, 54. Por alguns meses, Vincent trabalhou no Estúdio Cormon, onde conheceu os artistas John Peter Russell, Émile Bernard e Henri de Toulouse-Lautrec, entre outros. Este último, alcoólatra, apresenta van Gogh ao absinto, bebida popular da ocasião, que viria a ser muito consumida pelo pintor, que a retratou em Natureza Morta com Absinto. O absinto possuía como principal ingrediente uma planta alucinógena e cuja graduação alcoólica era de 68%. O absinto, também conhecida como "fada verde" devido aos efeitos alucinógenos.

Uma mudança fundamental na vida do pintor holandês aconteceu quando Van Gogh trocou Paris por Arles, mais ao sul da França.

A cidade era um local que o impressionava pelas paisagens e onde esperava fundar uma colônia de artistas.

Na pequena cidade, Van Gogh aluga uma casa e intensifica o seu trabalho, ao lado de Gauguin.

Gauguin e Van Gogh partilhavam uma admiração mútua, mas a relação entre ambos estava longe de ser pacífica e as discussões freqüentes. Para representar as relações abaladas entre os dois, Van Gogh pinta a A Cadeira de Van Gogh e a A Cadeira de Gauguin, ambas de dezembro de 1888. As duas cadeiras estão vazias, com objetos que representam as diferenças entre os dois pintores. A cadeira de Van Gogh é sem braços, simples, com assento de palha; a de Gauguin possui assento estofado e possui braços.

Mediante os diversos conflitos, Gauguin pensa em deixar Arles: "Vincent e eu não podemos simplesmente viver juntos em paz, devido à incompatibilidade de temperamentos"

Naquela época, o impressionismo tomava conta das galerias de arte de Paris, mas Van Gogh tinha problemas em assimilar esse novo conceito de pintura. Vincent e Émile Bernard começaram o uso da técnica do pontilhismo, inspirados em Georges Seurat.

Em 23 de dezembro de 1888, após a saída de Gauguin para uma caminhada, Van Gogh o segue e o surpreende com uma navalha aberta. Gauguin se assusta e decide pernoitar em uma pensão. Transtornado e com remorso pelo feito, Vincent corta um pedaço de sua orelha direita, que embrulha em um lenço e leva como presente, a uma prostituta sua amiga, Rachel. Vincent retorna à sua casa e deita-se para dormir como se nada acontecera. A polícia é avisada e encontra-o sem sentidos e ensangüentado. O artista é encaminhado ao hospital da cidade.

Internado em um hospital, recebe a visita do irmão Theodorus. No começo de janeiro de 1889, Van Gogh deixa o hospital, mas apresenta sinais evidentes de disfunção mental _às vezes, aparenta tranqüilidade, em outras oportunidades, demonstra alucinações.

O estilo de pintura acompanhou a mudança psicológica e Van Gogh trocou o pontilhado por pequenas pinceladas.

Em 1889, aos 36 anos, pediu para ser internado no hospital psiquiátrico na Provença.  A região do asilo possuía muitas searas de trigo, vinhas e olivais, que se transformaram na principal fonte de inspiração para os quadros seguintes, que marcaram nova mudança de estilo: as pequenas pinceladas evoluíram para curvas espiraladas

 Por ironia, à medida que a sua saúde fica ainda mais deteriorada, a classe artística começa a reconhecer o seu talento, expondo alguns de seus trabalhos em museus.
Em maio de 1890, Vincent deixou a clínica e mudou-se de novo para perto de Paris, onde podia estar mais perto do seu irmão e freqüentar as consultas do doutor Paul Gachet.

Entretanto, a depressão agravou-se, e a 27 de Julho de 1890, depois de semanas de intensa atividade criativa (nesta época pintava, em média, um quadro por dia), Van Gogh dirige-se ao campo onde disparou um tiro contra o peito. Arrastou-se de volta à pensão onde se instalara e onde morreu dois dias depois, nos braços de Theo. As suas últimas palavras, dirigidas a Theo, teriam sido: "La tristesse durera toujours" (em francês, "A tristeza durará para sempre"

Na ocasião, o  diagnóstico de Van Gogh mencionava perturbações epiléticas, ainda que o diretor do asilo, Dr. Peyron, sequer fosse especialista em psiquiatria. As crises ocorriam de tempos em tempos, precedidas por sonolência e em seguida apatia. Tinham a média de duração de duas a quatro semanas, período no qual Van Gogh não conseguia pintar. Nestas crises predominavam a violência e as alucinações. No entanto, Van Gogh tinha consciência de sua doença e lhe era repulsivo viver com os demais doentes mentais da instituição.

A doença de Van Gogh foi analisada durante os anos posteriores e existem várias teses sobre o diagnóstico. Alguns como o doutor Dietrich Blumer, em artigo publicado no American Journal of Psychiatry, mantém o diagnóstico de epilepsia do lobo temporal, agravada pelo uso do absinto.


Após a experiência dos ataques repetidos, convém-me a humildade. Assim, pois: paciência. Sofrer sem se queixar é a única lição que se deve aprender nesta vida."
— Vincent Van Gogh



FONTE: