UM DIA DE DOMINGO

  Não sei vocês, mas tenho idéias bem estranhas quanto aos programas de televisão. Quando digo estranha, quero dizer que penso muito diferente sobre as coisas que agradam na grade televisiva, principalmente aos domingos, quando teimam em expor ibopes estratosféricos.

  Não entendo como certos programas televisivos podem ser tão agradáveis ao gosto do telespectador.

  Penso que há manipulação dos números do ibope, forçando o gosto do telespectador conforme o poder aquisitivo de cada emissoras ou programa.

  Mas, por outro lado, ouço pessoas, por toda parte, comentarem e se tocarem por programas que exatamente marcaram pico de audiência. Exatamente aqueles que odeio.

  Falam bem e se comovem, atribuindo qualidade incalculável aquilo que simplesmente achei um desperdício de tempo.

  Neste momento, vem aquela sombra apavorante e macabra de um ente que recobre toda uma cidade com seu domínio violento. Assim sinto.

  Passado o calafrio penso que sou um ser diferente, estranho do resto da sociedade que defende aquela padronização do desejo.

  Sinto-me estranho, como se fosse à pessoa mais chata do mundo porque não vejo interesse onde todo o resto goza de prazer.

  Penso que não é a culpa do programa, mas sou eu que não consigo me socializar a ponto de sentir a importância daquela comoção televisiva, que reflete o gosto popular.

  As coisas para mim, diante da televisão parecem destituídas de originalidade, profundidade, crescimento.

  Mas, imediatamente, me reflete o quanto estou errado em função de saber o quanto todos gostam e aprovam.

 Sinto-me oprimido e renegado a indiferença por não compartilhar tamanha alegria que tais programas causam.

  Fico a pensar, em meu íntimo: será que sou insensível? Será que sou estranho a sociedade?

  Não gosto dos “de voices da vida”, onde um bando de nada talentosos cantam perfeitamente a música de alguém. Sem qualquer criatividade fazem uma performance ideal, de acordo como o comercial deve ser.

  Não gosto dos “volto pro lar”, “um dia de casa”, “qualquer coisa que chora”.  Tudo no domingo é pra comover, fazer chorar, emocionar. As pessoas ficam emocionadas, se desmancham, comentam como a coisa mais importante do mundo. Acho ridículo.

  Encaro com desprezo, pois não enxergo qualquer emoção nesta apelação emocional barata e insignificante. 

  Mas, diante dos outros ouvintes emocionados penso ser eu a única pessoa dissociada.

 Diferente destes modos iguais, que se baseiam em superficialidades.