Pra quê tanta superioridade dos ricalhaços,
Pra quê tanta soberba dos ditadores,
Pra quê tanta crueldade dos controladores,
Pra quê tanta esperteza dos políticos,
Se quando a noite cai,
Damo-nos conta da insignificância,
Que a abóboda celeste gira,
Em complexo constante eterno movimento,
De impossíveis cálculos matemáticos,
Onde o tempo é apenas metáfora,
Com seu jeito oculto age,
Sem nem se importar,
Com este pálido ponto azul flutuando no ar.
Mas aqui desperta,
A imagem onírica,
Incerta, precisa,
Que te toma o espírito,
Em impressionante ficção,
Para tomar de assalto,
Logo nos primeiros raios do dia,
Sua ignorância, sobretudo,
Sobre você.
Pra quê toda sapiência dos cientistas,
Pra quê toda eloqüência dos oradores,
Pra quê toda consciência dos escritores,
Pra quê toda inventividade dos artistas.
Se quando o Sol nasce,
Na vermelhidão do horizonte,
É mais um dia,
Ditado segundo a segundo,
Por movimentos involuntários,
E basta só um deles parar,
Para o corpo despencar.
Pra quê a defesa das crenças,
Pra quê o duelo de ativistas,
Pra quê a imposição do ponto de vista,
Pra quê as divergências contumazes.
Se quando se senta,
Em individual e solitário retiro,
De uma profunda resignação pessoal,
Entre gestos, grunhidos ou gemidos,
Se liberta fisiologicamente,
Em uma prazerosa sensação,
Que todos são iguais,
Quando a bosta cai.