Tenho defendido que depois da
Revolução Industrial, no século XIX, que foi um divisor de águas na sociedade
humana estamos vivendo atualmente outro grande divisor: a Revolução Digital.
A Revolução Industrial que foi um
meio inventado pelo homem para facilitar a vida e satisfazer as necessidades
das pessoas de forma mais eficiente através da produção em série dos bens de
consumo que ofereciam felicidade ensejou, necessariamente, uma antítese, isto
é, o questionamento destas mesmas necessidades e o quanto realmente se
alcançavam a felicidade.
Questionou-se naquela época a que
custo as coisas eram produzidas. Quanto da exploração da força humana era
necessária para satisfazer as necessidades de um punhado de pessoas. Pensou-se,
por conseqüência, o que diferia um homem do outro para que uns tivessem o
direito de explorar outros. Surgia, naquele momento, a idéia muito clara sobre
igualdade, exatamente por causa da extrema desigualdade que existia entre os
que vendiam a força e os que pagavam pela força.
Este meu discurso pode até soar
comunista, mas na verdade é no meu entender a melhor explicação para os
movimentos trabalhistas que, na época, ocorreriam em toda parte do mundo.
Muitas pessoas passavam a maior parte
do seu dia e, conseqüentemente, da sua vida convivendo nas fábricas.
Estavam todos no mesmo barco,
compartilhando dos mesmos desejos e dificuldades. Nas fábricas identificavam-se
pelos mesmos costumes, gostos e prazeres. Quando um ser humano se identifica
com outro surge um poder. Quando forma-se uma aliança entre muitos se forma um
grupo com maior poder. Os questionamentos sobre igualdade e necessidades
atingem um novo patamar capaz de surtir efeito pela mobilização.
Isto aconteceu. Reivindicações,
manifestações aconteceram. A revolução social foi o desdobramento óbvio. Muitos
exigiam seus direitos.
Assim o
mundo progrediu para uma nova concepção onde o homem é importante e deve ter
condições mínimas de igualdade e respeito às necessidades.
O trabalho foi normatizado no sentido
de oferecer maior justiça.
As coisas progrediram. A idéia da
isonomia humana se condensou e tomou um corpo enorme. O respeito às vontades
tomou espaço pela liberdade individual. Agregou-se a tudo isto o respeito às
outras formas de vida: a natureza.
Assim caminhamos para a Segunda
Revolução: a Digital.
Com o advento da informática tudo se
tornou mais fácil e rápido. A aquisição dos bens de consumo e satisfação das
necessidades individuais aumentou consideravelmente pela imensa possibilidade
que o mundo digital oferece.
Com a chegada da Internet pessoas que
outrora jamais se conheceriam passaram a conviver e compartilhar as mesmas
felicidades e infelicidades.
Grupos compostos de milhares ou
milhões de pessoas se formaram através do entrosamento de pensamento pelo
simples “curtir” no vídeo do YouTube.
O talento
se disseminou. Qualquer um se viu no direito de ser talentoso e usar a informática
como meio desta expressão. E de fato há muitos talentos individuais e anônimos que
passaram a fazer sucesso entre pequenos ou grandes grupos digitais. As redes
sociais e congêneres.
A idéia da igualdade entre os homens
se assenta com mais solidez. Contudo, a realidade ainda continua como antes. Diferença
entre uns e outros, minorias explorando maiorias. Desigualdade entre iguais.
Ocorre que hoje a quantidade de
pessoas que compartilham e convivem com mesmas idéias e desejos são na
quantidade de terabytes.
Apesar de toda globalização sabemos
que existe, como no século XIX, minorias e maiorias.
A ordem, apesar de manter a coesão da
sociedade, sempre será articulada por uma minoria que reflete no entendimento
da maioria como opressão.
A maioria sempre entenderá que as
regras constituídas são fruto de uma pequena classe elitizada e opressiva,
ainda que se submeta as ordens naturalmente.
A cobrança de impostos; a intervenção
nos direitos individuais; as obrigações e deveres não são plenamente entendidos
como manutenção da sociedade, mas como intervenção de um grupo específico do
poder.
E, na realidade, muitos desta minoria
aproveitam desta condição para explorar em prol das suas próprias necessidades
ou realçar uma idealizada supremacia.
Ocorre que hoje a mobilização das
pessoas se dá de forma bastante eficaz, pois a informática possibilita, de
forma rápida e fácil, a reunião dos iguais.
Como forma de expressar a felicidade
ao mesmo tempo o inconformismo com as diferenças jovens se reúnem no ícone da
sociedade moderna: os Shopping Centers.
Novas revoluções endêmicas se formam.