TEMOS QUE ACEITAR

Entendo que o mundo progride pela sucessão das gerações que o habitam. Alias, é natural este processo, exatamente como desvendou Charles Darwin, dizendo que o aprimoramento das espécies esta nas novas gerações com melhores adaptações e “compreensões” sobre a realidade.

Tudo começa com pequenas variações, quase que imperceptíveis, mas que geram um efeito muito melhor no alcance das necessidades do individuo. De forma que passa a ter melhores condições de atuação em um mundo cada vez mais competitivo. Este individuo, portanto, tem predominância sobre os demais, vivendo mais tempo e se reproduzindo, cuja descendência nasce com as modificações benéficas e, eventualmente, com alguma outra modificação ainda melhor, que será somada a existente e transmitida para uma futura descendência.

Assim, a natureza se transforma. A força do tempo carrega em si o poder de agregar conhecimento a partir do qual toda natureza faz um backup e se formata introduzindo novas versões sempre com a finalidade de preservar a própria existência.

Estas transformações ocorrem não só a níveis físicos e biológicos, mas também intelectuais.

É o antigo se reinventando com bem sucedidos aprimoramentos. Pois aqueles aprimoramentos que não geram efeito positivo simplesmente desaparecem. A natureza esta repleta de “testes”, onde indivíduos com modificações nada praticas não se perpetuam. Apenas as modificações vantajosas conseguem naturalmente preservar melhor e por mais tempo o individuo e seus descendentes.

Na seara humana não é diferente. Certamente alcançamos o topo da cadeia alimentar em função de ser a espécie que melhor adapta-se as transformações e melhor aproveita as vantagens maximizando-as a cada nova geração que se sucede.

O aprimoramento de uma geração antes de se concretizar é testado e consertado até que se introduz como definitivo na geração seguinte. Assim, o Ser humano contando com seu poder de crítica, senso e idéia soube e sabe preservar o que é bom, introduzir melhoramentos e passar aos descendentes.

Por isso sou categoricamente contra o discurso de alguns reacionários que pregam que no passado as coisas eram melhores.

Sou veemente contra todos os argumentos neste sentido. Pessoas de pouca análise sustentam que a violência era menor, o respeito era maior, não havia tantos homicídios, tudo era lindo e melhor.

Creio com fé de concreto no pensamento que hoje é muito melhor do que anos atrás. Os jovens de hoje são melhores e mais astutos. O conhecimento hoje se adquire democraticamente por diversas mídias.

A violência, ora violência!? É a mesma desde tempo dos ancestrais. Infelizmente somos seres belicosos, então, entendo que a violência não diminui, tampouco aumentou é a mesma persistência de todos os tempos.

Respeito. Penso que por causa da compreensão desenvolvida o respeito aumentou. Criamos Leis que normatizam os direitos essenciais do Ser Humano: liberdade, vida, crença, igualdade e todas as formas inerentes do ser se expressar na existência. Portanto, o respeito está no apogeu da sua Era.

Hoje temos a liberdade de pensarmos e sermos o efeito necessário deste pensamento, ainda que a conseqüência seja a perplexidade do outro.

Somos capazes de transformar o homem em mulher e vice versa; contrariar ditadores; expurgar torturadores; dizer não ao Vaticano; defender a individualidade, doar-se na catástrofe; chocar a coletividade; manifestar-se sem pudor respeitando o direito alheio; ser o que quiser e aquilo que não quer ter o direito de buscar a justiça.

Somos hoje o que sempre foi proibido ontem. O passado nos condena, mas o futuro nos redime e absolve, exatamente, como deve ser a liberdade humana de raciocinar e comportar-se segundo a compreensão deste raciocínio. É isto que nos torna capaz.

E a capacidade aumenta o desenvolvimento.

Dizem alguns que a criação dos filhos é pior, pois vejo o contrário, entendo ser melhor. Quem diz ser pior são os preguiçosos que cochilam diariamente e dormem profundamente quando chega a hora do problema.

Os tempos modernos nos impõem, é verdade, estarmos alertas, dispostos a agir a qualquer hora. Só que viver é isto: estar ligado.

Ligado na vida, nossa, do outro e de todos que se convive, principalmente de nossos filhos.

Esta ligação não é provir dinheiro, riquezas materiais, bens de consumo, quinquilharias, reprovações morais e preconceituosas, egoísmo, nostalgias educativas. NÃO.

Criar filho hoje é melhor e mais aventurança, pois o criador deve ativamente participar envolvendo-se no mundo que lhe cerca e, naturalmente, cerca o criado.

Os pais devem interagir de maneira natural sem conceitos pré formados que só interferem negativamente na formação do laço verdadeiro do amor pela compreensão.

Amar é interagir deixando-se levar pelo inesperado em busca do novo conhecimento.

Conceituar o individuo é limitar-se. É a mesma coisa de querer prever o imprevisível, confinar o infinito.

A melhor forma de conhecer o outro é ter certeza que não o conhece, mas espera para ver.

Nesta pegada se anda as gerações de filhos que se sucedem, porque os pais velhos acabam e são substituídos por novos pais que serão no futuro velhos pais.

Porém é isto o destino da humanidade. Se desenvolve ao ritmo da geração que a cada nova sucessão tem o poder de gerar o desenvolvimento.

Porque cada parte em si se questiona, se altera, se substitui dando margem para todas partes em conjunto renovadas transcenderem a longevidade. Alcançar o infinito.

As gerações que se sucedem infinitamente e serão sempre as melhores da sua geração.


Aos velhos a morte é certa, porque certo é o novo que nasce.