A GENTE QUE RALO

Tenho pensado uma coisa com esmero. Palavra bonita para significar a cautela do pensamento que me parece inédito e certo.

Pense comigo no raciocínio. Ainda que não concorde.

O ralo.

Somos o ralo, um simples ralo de aberturas, espaços e fechamentos por onde passa a água, os excrementos, toda sorte de resíduo produzido, por entrementes gente.

Somos, pensemos assim: o ralo da pia. Ou qualquer outro ralo por onde se passa a rotineira água do dia-a-dia.

Toda gordura e resíduo direto para aquela fedorenta caixa de gordura. Ou por qualquer outra fedorenta caixa em que se acumula a água suja.

Somos este ralo.

Vezes filtramos o que não presta inofensivo e vai embora. O resto maior e nocivo tem destino certo: o lixo. Isto para as pessoas de boa consciência.

Para os que pouco se importam, jogam o óleo. A gordura vai ralo abaixo para longe causar problema para outro que se vire com a solução.

Há aqueles que raspam todo resto da comida, orgulham-se em não entupir o ralo, são sensatos na lavagem dos pratos.

Há aqueles que não se importam com o quê descerá ralo abaixo. Dispensam todo resto sem consciência do que se fará dele. Nem quer saber, só se livrar.

Há os que conscientemente do resto se livram incumbindo outro de solucionar o problema.

Há aqueles que restos nenhum se deixam livrar. Acumulam até o entupimento.

Há os restos que olhamos com parcimônia ate dissipar vagarosamente pelo ralo, com a paciência do observador e pensante, vai dar certo ir embora esta água repugnante.

Há o ralo que teima em nada descer, fica água parada, precisa de um empurrão com as mãos para escorrer demais.

Há o ralo que não desce é difícil demais, só um desentupidor forçando muito para solucionar.

O ralo dos eruditos que concebem o procedimento específico para liberar.

Os inteligentes que com ingredientes querem solucionar.

Os profissionais que com suas maquinas vem desentupir.

O desavisado que entope sem pecado.

O sádico que joga mesmo para entupir.

O ralo obcecado em consumir até entupir.

Ou desentupido não para de sugar.

A água que corre lenta,

Que em redemoinho rápida se alimenta.

Toda água que deságua no ralo,

Em sua personalidade contida,

Refém, purifica,


Ou se deixa esvaziar.