Hoje completo
42 anos. Se sou velho por força da idade, problema dela, porque não é assim que
me sinto. Sinto-me jovem, de uma contida imaturidade que, ás vezes, beira a
criancice.
É muito
divertido ser um bobalhão, falar e agir com bobagens, próprio dos maduros que
se pegam em estado adolescente, e, constatam que o tempo passou despercebido e
hoje é uma realidade. Que continue assim, pensamos. Sem conjugar de modo
imperativo o presente. No mínimo pretérito mais-que-perfeito. E futuro do
subjuntivo.
Mas a idade é
carga. Simplesmente porque ao longo da jornada se acumula os espólios dos
piratas. A mochila fica cada vez mais carregada de bagagem, que muitas vezes
pode dar sobrecarga. E ai surge o posicionamento incisivo, determinando certo e
errado; emitindo pareceres; tomando decisões, tudo em prol do movimento
sincronizado da máquina.
O corpo já não
responde com os ânimos da meninice, porém solido e convicto sofre menos abalos.
A estrutura rija oferece segurança. Ainda que não haja a vivacidade incauta dos
hormônios em ebulição existe a tranqüilidade das pesadas águas de um oceano
que, se em fúria, destrói países.
A curta Era de
um ser vivente é a única possibilidade de entender a existência.
Felizmente
somos a espécie que melhor compreende o que existe, coisa que também gera a
cruel dúvida.
De qualquer modo concordo com a
frase de Fernando Pessoa: “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento
passar, vale a pena ter nascido.”
Idade é, para
mim, algo concreto e ao mesmo passo subjuntivo. Mensuração do desenvolvimento
físico e pensamento mensurando a concepção do tempo vivido.
Esta matemática
ilógica entre corpo e alma define e conceitua o número de anos de vida.
Então idade é
verdade racional acumulada com concepção emocional, tudo impelido por uma força
físico-psquico-biológica com prazo de validade.
O homem não
supera a realidade física, ainda que tente superá-la intelectualmente. Em um
dado momento a estrada se converge e o pensamento se funde com o real. Tal
associação faz do homem mortal.
O pensamento
luta para ser infinito, mas o corpo em sua soberania limita-o. Há também os
limites impostos pelo corpo social, que disciplina e confere de maneira
inequívoca formas de pensar e agir.
Somos seres
infinitos confinados dentro dos limites da engenharia e arquitetura social e
natural.
Quanto mais
jovens mais suscetíveis somos aos limites, apesar de ter uma falsa impressão de
transgressão.
Quanto mais
velho menos se tenta transgredir, mas adaptar-se aos limites de modo que possa efetivamente
estabelecer uma expansão.
Estamos
correndo em uma pista deixando a idade para traz. Quanto mais voltas damos na
pista, mais cansados ficamos e a idade começa a nos alcançar. Quando a idade
nos alcança passamos a caminhar e refletir os motivos daquela pista.
Mas a idade não é certeza de boa reflexão,
alias pode-se errar muito mais do que acertar. Apesar de a maior idade impor
cautela sem precipitações, o que auxilia em fazer a coisa certa. Mas toda regra
comporta exceção.
A idade é
sempre uma nova conquista porque “upamos” nova fase, e nela há muito para se
desvendar e jogar.