PARADOXAL BUSCA QUE NÃO SE BUSCA

Agora que tenho tempo para dedicar-me ao prazer de escrever, reservei algumas horas para refletir sobre aquelas questões que julgo importantes para meu amadurecimento emocional, ao mesmo tempo, que compreendo serem-nas, por sua própria natureza, impossíveis de estendê-las em conversas cotidianas, na vida prática.

A Vida “normal” se ocupa de valores simétricos e usuais, rejeitando qualquer assunto que tenha cunho de “profundidade” porque as pessoas se consideram profundas o suficiente para deliberar sobre tais questões, cujas convicções são formadas na intima reclusão, longe das aglomerações sociais que são reservadas a outros assuntos.

Acontece que, geralmente, não estamos sozinhos. A maior parte da nossa vida acontece em bando. E como bando de animais racionais criou-se a dinâmica social que orienta e estabelece os destinos individuais.

Pensando sobre isto tudo, passei a refletir sobre a felicidade humana, foi então que me surgiu a compreensão de que ela tem como origem a infelicidade. Sim, pois, apenas algo que nos deixa infeliz pode ser causa de buscarmos a felicidade, já que ninguém busca o que tem, tão-somente, o que ainda não possui.

A felicidade esta intimamente ligada as nossas desenvolturas emocionais, de maneira que passei inquirir as razões de tanto sofrimento emocional que assola o mundo.

Então se formou sinapses em meu cérebro poderosas o suficiente para discernir o que se segue. 

O sofrimento emocional, em seus diversos graus de intensidades, se dá pelo que denomino conhecimento falacioso.

Todo Homem possui sua base de conhecimento através da qual se orienta e segue sua vida.

Por que então, com todo conhecimento disseminado pelo mundo, não há sequer um Ser entre tantos, capaz de apaziguar-se absolutamente com a vida e dar as respostas necessárias?

O Conhecimento não está certo – pensei.

Diariamente nos convencemos de que tudo que se sabe ou que sabemos é valiosíssimo, e a única razão de nos mantermos vivo é exatamente este saber perseguido desenfreadamente por Todos em todos os dias que se seguem.

Foi quando pensei: Será que o que sabemos é tão ínfimo e insignificante que nos envolve apenas com uma tênue nuvem de sabedoria?

Este pensamento fez surgir outra questão: talvez seja isto a origem dos males emocionais?

Passei a considerar as proposições da Ciência e também da Religião. Procurei não pender a qualquer lado, mesmo porque valorizo ambas na mesma proporção.

Comecei a pensar sobre as tradições. Aquele conhecimento transferido de geração a geração e, inevitavelmente, me encontrei envolvido pelas Escrituras Sagradas.

Ponderei que se recebem o nome de Sagradas devem carregar algo de muito valor.

Como não tenho responsabilidade com a doutrina cristã, tampouco, com qualquer outra doutrina religiosa me dispus a ler as Escrituras apoderando-me de interpretações exclusivamente pessoais.

Encontrei simbolismos importantíssimos nas Escrituras, revelações essenciais as questões formuladas no inicio.

Assim ficou minha interpretação:

No meio do Jardim do Éden florescia a árvore do conhecimento. O Homem dela não poderia experimentar. A mulher enganada pela serpente a degustou e disto resultou a moralidade e culpa. Mulher e homem foram expulsos do paraíso para padecer na Terra. Essa é a síntese da Gênese, do Velho Testamento.

Homem razão, mulher emoção. Carne e espirito, corpo e alma enganados.

A Gênese é a explicação sobre a origem do Homem, logo, é algo que não pode ser lido textualmente. Pela sua persistência no tempo e espaço deve ser interpretada teleologicamente.

A árvore do Conhecimento, substância primordial de raízes profundas e verdadeiras, cujos frutos são essência de tudo que existe, plenitude absoluta do saber fica encravada no centro. Qual centro? O lugar bem no meio da nossa razão, nossa emoção. O centro de todas as pessoas, sociedades, comunidades. No cerne de cada partícula e individuo que compõe o Todo. Em lugar com acesso estratégico e fácil.  Sem pretensões existe. Simples como tudo deve ser. Esta lá, plantada.

Ocorre que quando o ansioso Ser Humano movido por sentimentos vorazes chegou à árvore estava suado e tomado pelas sensações do engano. Com visão distorcida olhou a árvore. Um entendimento preponderantemente sedutor lhe acalmou. Aquela paz envolvente muito mais que esclarecedora lhe paralisou. Como uma cascavel que hipnotiza pela beleza, pela forma, pelo som, pela atmosfera o Ser se embriagou experimentando o fruto que lhe era oferecido com olhos inebriantes de uma realidade entorpecida.

Sorveu o conhecimento desesperadamente. Como se Dele tivesse fim, com medo que acabasse buscou comer além do que podia, numa gula insaciável devorava patologicamente.

Nessa experimentação desenfreada quis acumular cada vez mais conhecimento. Apoderou-se de tal maneira que temia repartir, guardando os conhecimentos que julgava importantes só para si. Fez da sua avareza o cofre secreto onde não permitia distribuir conhecimento com outros.

Esbaldou-se com os frutos do conhecimento, considerando-se superior a tudo e a todos. Desenvolveu arrogância e presunção à custa da humilhação alheia. A vaidade que irradiava do conhecimento através de intensa e descontrolada luz ofuscava os olhos de modo a impedir a verdadeira visão das coisas. Mas isto não impedia de se sentir o todo-poderoso de maneira a consumir vorazmente todos os bens materiais para satisfazer a luxúria do seu falso brilhante conhecimento.

Uma competição exacerbada se instalou. Batalhas em prol de estabelecer qual conhecimento era superior se disseminou por todo o mundo, transformando cada homem vivente em um guerreiro da opinião. Cada combatente fez da sua fortaleza de entendimento uma irada luta para ferir seu semelhante e com ira subjugaram tudo que lhe cercavam.

Houve muitas baixas nesta batalha. Aqueles que se feriram, saíram perdedores. Estes não conseguiram impor suas convicções por isso sentiram inveja dos que receberam a atribuição de vencedores.

Caíram num marasmo como se todo aquele conhecimento fosse grande demais para carregar, alto demais para alcançar. Então se abateu a preguiça de continuar. Desistiram porque consideram um esforço além das suas capacidades.

Os que permaneceram em pé se consideraram acima de tudo e todos, autodenominando em escala diferenciada. Era tudo que precisavam para alimentar a soberba de seus conhecimentos.

Desta doença milhões foram infectados e todos aguardam por uma cura dos seus males emocionais. E o dia que a cura chegar vão entender que:

O Verdadeiro Conhecimento, o conhecimento absoluto sobre Todas as coisas é onipresente, ou seja, está espalhado por todo manto do Universo, não há lugar, recôndito ou fresta inacessível onde não seja invadida pelo conhecimento. É como o ar que respiramos, aliás, é mais que o ar, pois alcança lugares onde nenhuma outra substancia alcançaria. Não está escondido, nem desvendado, apenas preenche todos os espaços sem deixar lacunas. E quando se curar do conhecimento entenderá que não precisa procurá-lo porque ele sempre esteve ao seu lado, neste momento, acabará a obstinação e o verdadeiro conhecimento verterá naturalmente.

Ele é onisciente de maneira que após experimentar sua infinita fluidez extinguirá naturalmente o desejo de conhecer. E as aflições acabarão imediatamente porque o ritmo do coração tornar-se-á linear e a emoção alcançará a neutralidade.


Quando os seres estiverem curados pelo Verdadeiro Conhecimento sentirá sua onipotência, tão acessível como uma fonte inesgotável de água pura e cristalina, de modo que, não mais haverá necessidade dele (Poder) fazer uso. O antigo Poder ruirá como os castelos de areia desmoronados pelas suaves ondas de um calmo mar. Poder não será mais necessário, alias, nem mesmo será querido.