A manhã sai a passeio na praia polvilhada de sol.
Braços.
Pernas amputadas.
Corpos que se reintegram.
Cabeças flutuantes de borracha.
Ao tornear os corpos das banhistas, as ondas espalham seus
cavacos sobre a serragem da praia.
Tudo é ouro e azul!
A sombra dos guarda-sóis. Os olhos das moças que se injetam
romances e horizontes. Minha alegria de sapatos de borracha que me faz pular na
areia.
Por oitenta centavos, os fotógrafos vendem os corpos das
mulheres que se banham.
Há quiosques que exploram a dramaticidade da arrebentação. Criadas
chocas. Sifões irascíveis, com extrato de mar. Rochas com peitos algosos de
marinheiro e corações pintados de esgrimista. Bandos de gaivotas, que fingem o voo
destroçado de um pedaço branco de papel.
E diante de tudo está o mar!
O mar!...ritmo de divagações. O mar! Com sua baba e sua
epilepsia.
O mar!...até gritar
Basta!
como no circo.
Mar Del Plata, outubro, 1920
Autor: Oliverio Girondo
Tradução: Fabrício Corsaletti e Samuel Titan Jr.
O poema faz parte da antologia bilíngüe “20 Poemas para Ler
no Bonde” (Coleção Fábula, Editora 34), que será lançada no próximo dia 18. A edição
traz ilustrações pouco conhecidas, feitas pelo autor do livro, o poeta argentino
Oliverio Girondo (1891-1967). O volume inclui ainda ensaios fotográficos de seu
compatriota Horacio Coppola (1906-2012).