Este texto foi publicado por um blog português, portanto, o assunto abordado é relativo às experiências do que tem ocorrido na Europa. Acontece que, em um mundo globalizado como o nosso esta análise - das relações no trabalho - se encaixa perfeitamente no Brasil.
Está por todo o lado. Vivemos, hoje,
num mundo amordaçado pela cultura do medo.
E que medo é este? O medo de perder o
emprego, o medo de não encontrar um novo emprego. O medo de errar, o medo de
estar na direção do dedo apontado, o medo de não ser aceite pela sociedade, o
medo do comentário e da crítica, o medo de ficar paralisado e recear existir.
Este é hoje um dos maiores males que
temos enquanto sociedade. O receio de perder o emprego trava a economia. Esta pressão,
ou tensão sobre quem trabalha, este mecanismo da cultura do medo, provoca conseqüências
assaz negativas.
As organizações devem ser ágeis e
recrutar os melhores. A já velha história da meritocracia está correta e é um
conceito evidente para todos. E os encostados? Bom. Existem tantos, mas a
cultura do medo permite que essas pessoas se mantenham nas organizações. Um
feudo de quintas e quintinhas fazendo "manutenção de processos". Ora,
não há nada pior para travar um espírito de efetiva inovação dentro de uma
organização do que um status quo gasto e ineficiente. É que a mudança significa
o desconhecido. E face ao desconhecido sobem as resistências. Mas a base está
no medo. O poder de amedrontar os colaboradores provoca o receio de errar, o
receio de fazer e o receio de ousar.
E haverá tolerância ao erro dentro
das organizações? É sempre uma das principais características enunciadas para a
criação de um ambiente fértil de inovação e criatividade. Tolerância ao erro.
Mas será assim mesmo? Penso que errar é humano e ninguém está a salvo, mas o
saque de dedo rápido para apontar, a crítica e o rebaixamento só tendem a
piorar as situações. O que leva a inibições e burocracias estéreis. A fazer
sempre o mesmo, da mesma forma, porque tem medo.
As organizações precisam de abertura
e sinceridade. De alto a baixo na pirâmide. Se os objetivos organizacionais e
individuais forem claros, todos tendem a ganhar.
Isto é válido para o privado e para o
público. A motivação é crucial para o sucesso econômico. E é mesmo. Não se
pense que é do medo que se colherão bons frutos, que se aumentará a
produtividade. Haverá melhor incentivo que a consideração e respeito entre
colegas e entre chefes? Não será uma política de incentivo à produtividade o
elogio? Não o elogio fácil, mas a palavra certa no momento certo? Haverá melhor
estimulo à produtividade do que a compreensão e o trabalho em equipa?
Não há.
Ninguém chega a lado nenhum sozinho.
Desenganem-se.
É com o trabalho de equipa que se
alcança o sucesso. Sem medos, sem receios, aceitando as diferenças e os ritmos
diferentes de cada pessoa. A economia vale a pena para as pessoas e não apenas
centrada no lucro absoluto ou nos números robustos, na divulgação de contas ao
mercado, para investidores verem. Devemos ser produtivos e exigentes. É da
exigência que se faz a excelência. Mas não é nem da exploração, nem do medo.
E por tudo isto é crucial que os
futuros líderes das organizações encarem o trabalhador como o centro da
capacidade produtiva da empresa. A oportunidade de contratar e empregar uma
pessoa deve ser vista como um proveito operacional. Se há flagelo de que esta
sociedade padece é o desemprego, se há bom combate que vale a pena travar é
dotar ou melhorar as competências das pessoas e torná-las úteis. Apesar da
descida verificada na taxa de desemprego, dadas as imperfeições das
estatísticas, temos ainda um longo caminho pela frente. Nesta senda, que não se
pratique o clima de medo, em quem tem hoje emprego. A insegurança laboral só
tenderá a gorar expectativas e a ser um fator de retrocesso.
Haja motivação e capacidade de
resposta. A receita do medo é o pior inimigo da ousadia e do rasgo. E que falta
faz um golpe de asa em todas as organizações.
Fonte: filosofiaemalbergaria.blogspot.com