Grito do Ipiranga.
Ouviram do Ipiranga
As margens plácidas
De um povo heróico
O brado retumbante
As margens plácidas do Ipiranga
ouviram o retumbante brado de um povo heróico, em outras palavras, o “Grito de
Independência” proferido por Dom Pedro de Alcântara de Bragança – futuro
imperador Dom Pedro I do Brasil -, e sua comitiva tiveram como única testemunha
o silencioso rio Ipiranga e suas margens, ou seja, não houve luta, derramamento
de sangue, nem mesmo um pequeno grupo oposicionista para legitimar o termo:
conquista. Nada. Apenas Dom Pedro I juntou alguns dos seus reunindo-se próximo
ao rio onde ele teatralizou o grito de independência, logo em seguida, cada qual
foi embora para suas casas.
Assim se deu a Independência do
Brasil. Porém, mais notáveis foram os acontecimentos que se sucederam.
Em 3 de maio de 1823, isto é, quase
oito meses após o “Grito” Dom Pedro I, num extenso discurso patriótico e
liberal formalizou a abertura da Assembléia Geral, Constituinte e Legislativa
que daria forma à independência conquistada.
Por ser um discurso muito longo não
acho apropriado escrevê-lo na íntegra, mas posso afirmar que é um belo e
ufanista discurso, no qual, ele exalta princípios da vontade do povo
brasileiro; progressos realizados após a independência e união nacional para um
progresso conjunto.
Logo no início de seu discurso, diz:
Dignos representantes da nação
brasileira,
É hoje o dia maior, que o Brasil
tem tido; dia, em que ele pela primeira vez começa a mostrar ao Mundo, que é
Império, e Império livre. Quão grande é meu prazer. Vendo juntos Representantes
de quase todas as Províncias fazerem conhecer umas às outras seus interesses, e
sobre eles basearem uma justa e liberal Constituição, que as seja. Deveríamos
já ter gozado de uma Representação Nacional: mas a Nação não conhecendo à mais
tempo seus verdadeiros interesses, ou conhecendo-os, e não os podendo
patentear, vista a força, e predomínio do partido Português, que sabendo a que
ponto de fraqueza, pequenez, e pobreza...
...Enganaram-se nos seus planos
conquistadores, e desse engano nos provem toda a nossa fortuna...
E continua seu discurso dizendo o
quanto o povo brasileiro sofreu, por décadas, a exploração de Portugal.
Arremata proferindo que dali pra frente tudo será diferente. Não haverá mais
corrupção, tampouco evasão de divisas. Toda riqueza será produzida em conjunto
pelo povo e em prol dele. Blá, blá, blá.
No meio
do discurso, diz:
...Afinal raiou o grande Dia para
este vasto Império, que fará época na sua história. Está junta a Assembléia
para constituir a Nação. Que prazer! Que fortuna para todos Nós!...
Próximo ao final do discurso, belas
frases:
...Espero, que a Constituição, que
façais, mereça a Minha Imperial Aceitação, seja tão sábia, e tão justa, quanto
apropriada à localidade, e civilização do Povo Brasileiro; igualmente, que haja
de ser louvada por todas as Nações; que até nossos inimigos venham a imitar a
santidade, e sabedoria de seus princípios, e que por fim a executem...
Finalizando o esplêndido discurso,
encerra:
...Seu defensor Perpétuo, Cumpra
Exactamente a Promessa feita no 1º de dezembro do ano passado, e ratifica hoje
solenissimamente perante a Nação legalmente representada.
Assim acaba o discurso que acendeu a
chama de esperança e justiça no coração dos brasileiros. Aqueles responsáveis
em criar os dispositivos da Carta Magna empenharam-se em elaborar princípios liberais,
justos e condizentes com o progresso do povo brasileiro.
Ocorre que Dom Pedro I não gostou do
rumo excessivamente anti-imperial e antiportuguês que a sua própria iniciativa
começou a tomar. Uniu-se aos ricos comerciantes e aos altos funcionários,
dissolveu a Constituinte seis meses depois de criá-la, convocou um time de
sábios e outorgou a Constituição Imperial – a primeira do Brasil – em 25 de
março de 1824, a seu bel-prazer e gosto.
Não bastasse essa “nobre atitude”,
preocupado com a deplorável situação de Portugal resolve, em 1831, abdicar do
seu trono, abandonando o Brasil rumo a Portugal deixando o comando do país sob
a responsabilidade do seu filho que, na época, tinha a idade de 5 anos. Ele
realmente se importava com o Brasil, tanto que avaliou ser uma criança capaz de
governar.
Resumo da estória:
Desde o início até os tempos atuais
somos convencidos por discursos que prometem a defesa e proteção dos interesses
da coletividade, de maneira a prosperar a Nação, quando na prática, aqueles que
assumem o Poder agem pela manutenção dos seus próprios interesses pessoais.
O povo, por sua vez, - inapto,
incrédulo e incipiente – fica submetido aos mandos e comandos de uma minoria.
fontes bibliográficas
- Discursos que Mudaram o Mundo. F. De S. Paulo.
- Wikipédia