Era véspera de Natal e duas mariposas
ficaram girando em volta da lâmpada até tarde. Quando amanheceu, elas viram, do
lado de lá da janela, uma borboleta. "Ah lá, que coisa ridícula!",
caçoou uma mariposa. "Toda coloridinha, a fofa...", emendou a outra.
"Se achando o próprio arco-íris", zombou a primeira. Depois, foram
dormir.
Na noite seguinte, a caminho da
lâmpada, a primeira mariposa passou pela árvore e se viu refletida num enfeite
vermelho. Parou, exultante, olhou pra direita, olhou pra esquerda e, como não
havia ninguém, ficou ziguezagueando diante da árvore, admirando seu reflexo,
ora verde, ora amarelo, ora vermelho, ora prateado, ora dourado, nas bolas de
vidro. Até que, do outro lado da árvore, surgiu a segunda mariposa. As duas
tomaram um susto. "Que que cê tá fazendo aí desse lado da árvore?!"
"Nada! Tô subindo pro lustre! E você, tava fazendo o que lá do outro
lado?!" "Nada! Subindo pro lustre, também..."
Dito isso, elas voaram até o alto da
sala e ficaram a girar em volta da lâmpada. "Nossa, e aquela borboleta,
ontem, hein?!" "Coisa ridícula, toda coloridinha, a fofa."
"Se achando o próprio arco-íris..."
Antônio Prata - Folha de S. Paulo 14/09/2014