O VENTO QUE SOPRA DO NORTE




Nos últimos trezentos anos o mundo progrediu a passos largos, cadenciando ritmo acelerado nas ciências, na tecnologia, nos sistemas políticos, nos princípios sociais, na economia; em todos os cursos e percursos que atuam sobre o desenvolvimento da sociedade humana.

Criamos meios eficazes de produção agrícola em larga escala, criamos maquinários igualmente capazes de realizar a colheita sem dispendioso tempo e sacrifício. Aprendemos a seleção intencional das espécies, bem como, o uso de substâncias que incitam seu desenvolvimento de modo a produzirmos animais numerosos e sadios.

Empregamos nosso conhecimento na tecnologia, medicina e engenharia a ponto de alcançarmos feitos inacreditáveis.

Estamos desvendando o Cosmo e conhecendo os intrincados sistemas complexos do mundo invisível, o microcosmo.

Avançamos enormemente sobre as ideologias morais e sociais elaborando Princípios Universais dos direitos da pessoa humana.

Conhecemos os efeitos e conseqüências das relações entre biosistemas preocupando-nos com a exploração sustentável e responsável.

Desvendamos alguns mistérios do cérebro compreendendo importantes mecanismos do pensamento.

Crescemos em arte e intelecto permeando a psicologia dos sentimentos para nos humanizar.

Parece que sabemos algo de mais nos círculos de informação, além daqueles que reservam seus mistérios para revelarem em períodos oportunos de esclarecimento geral.

Somos nuvem carregada de infinitos dados na escala quântica da física.

São tantos os feitos humanos conquistados ao longo de um curto espaço de tempo que nos esquecemos o quão simples é viver sem todas estas coisas.

Atualmente, não há possibilidade razoável de abdicarmos aos prazeres e conforto proporcionados pela modernidade.

É tudo muito lírico, impreterível, inadiável.

Apesar de tudo, acontece que não superamos.

Não superamos a fome, não erradicamos a doença, não preservamos o sistema, não acabamos com a pobreza, não disseminamos o conhecimento, não relativizamos as diferenças, não esvaziamos o rancor dos corações, não somos fortes o suficiente, não sentimo-nos capazes, não somos lúcidos nem equilibrados, não queremos igualdade, não queremos fraternidade daquele que esperamos subjugar.

Queremos sim. Sempre mais.

Queremos completar o que nos falta. Algo que sempre nos faltará.

Como se tudo que temos hoje, amanhã não estará mais lá.

Um canto inverossímil, um lugar onde nunca se preenche, de um vazio tão ardente que queima a alma aflita em ter água pra apagar.


A chama que não se apaga.