CRÍTICA A CRENÇA PURA




A sentença repetida por todas as pessoas, independentemente de raça, cor, sexo; nível cultural, social, financeiro é: “A Lei é diferente da prática”

Tal sentença se impõe como axioma dado à credibilidade que lhe é conferida, principalmente porque muito freqüentemente há a constatação empírica.

Então por que a Lei?! Qual o perímetro da sua eficácia?! – Muitos se perguntarão abismados.

Realmente a Lei, com sua rígida estrutura positiva e impositiva, não carrega intrinsecamente poder para determinar as ações e omissões humanas.

A Lei não é onipotente, mas, por outro lado, tem os atributos da onipresença e onisciência.

Como já falei não tem poder absoluto sobre as condutas, porem, toda conduta do indivíduo em sociedade está determinada por sólidas bases pré-conceituadas imbuída de coerção ou permissão, em outras palavras, a Lei é onisciente e onipresente. Sua onipotência é relativa e restrita.

Pensemos o seguinte: não há ação ou omissão humana que não possa ser enquadrada em alguma legislação. Qualquer ato é passível de aceitação, permissão ou reprovação legal.

Os atos cotidianos, aqueles praticados diariamente são permitidos legalmente, pois, do contrário, passariam a ser punidos ou repreendidos.

A Lei, então, é onipresente. Ela em tudo está. Dela se usufrui tranqüilidade ou desconforto. Se você caminha na rua com objetivo de sentar ao banco para apreciar o mar, a lei lhe permite através do direito de ir, vir e estar. Mas, se neste percurso você danificar um automóvel estacionado responderá pelo dano.

A Lei é onisciente. Porque qualquer ação ou omissão humana; qualquer movimento ou inércia dos atos humanos são passíveis de enquadramento na legislação.

O Homem sujeitar-se-á as conseqüências do seu ato transgressor, será punido de forma dolorosa. Nestas circunstancias poderá se arrepender ou não. Muitas vezes a simples punição legal não é suficiente para o individuo intimamente se arrepender.

Nisto a Lei não tem o atributo da onipotência, já que, apesar de saber absolutamente os atos humanos e seu enquadramento (onisciência); saber absolutamente agir no sentido de punir ou permitir (onipresença); jamais consegue determinar o arbítrio livre de cada indivíduo (onipotência).

Os Homens criaram a Lei conforme o consenso moral imperativo naquela sociedade, ao mesmo tempo em que estabeleceram a punição equivalente para transgressão daquilo considerado harmônico.

Entretanto, haverá sempre os dissidentes, aliás, em número considerável, haverá aqueles que não concordarão, tampouco, se adaptarão ao imperativo consensual, de maneira que transgredirão, sem julgo moral preponderante.

Certamente suportam as conseqüências da transgressão, isto é, encara a punição em prol daquilo que compreendem – por condição social ou cultural – resistência a imposição daquilo que não lhe representa. É como uma luta revolucionária por um ideal político. Sente-se, a certo ponto, o grupo de resistência perante um déspota.

Estes entes se vangloriam apesar da dor.

Exatamente neste ponto é que difere as Leis do Homem das Leis de Deus.

Diferentemente da Lei do Homem, a Lei Divina representa a todos incondicionalmente.

As Leis do Homem apesar da certeza da punição pela transgressão não tem o poder de impedi-la. Já a lei de Deus apesar de uma perspectiva de punição futura tem o poder de impedir o ato humano que passa se reconsiderar intimamente com temor à punição divina.

Ocorre que a Lei dos Homens mesmo sendo certa e palpável não modifica incisivamente a moral, já a Lei de Deus incerta e abstrata consegue intervir na moral do indivíduo.

Ainda que a Lei dos Homens seja originalmente fruto da moral humana em sociedade não tem o poder do temor religioso sobre a moral individual.

Dissociamos a Lei do Direito da Lei de Deus, como se fossem coisas completamente opostas, quando na verdade são frutos de uma mesma coisa: A moral humana em coexistência social.

Acontece que o valor atribuído as coisas materialmente verificadas é menor que valor das coisas consideradas abstratamente. Em outras palavras, atribuímos maior importância ao que sentimos e pensamos do que observamos e condicionalmente vivemos. Isto tem conseqüências preponderantes.

Destruímos continuamente o Mundo sem nos preocupar, enquanto nos preocupamos continuamente com questões moralmente divinas sem qualquer importância empírica e concretamente relevante.

Assim se espalha pelo Mundo a religião, baseada numa pseudo essência preponderante, enquanto as questões realmente importantes, capazes de influir em nossa espécie são preteridas.

Muita morte e degradação social ocorrem por causa desta idéia.

A extrema complexidade do ecossistema – essencialmente divido – fica em segundo plano diante de um ineficiente dogma divino.

Por isso a religião causa mais males comparada a ciência que acrescenta.


Para acabar com está incongruência ambos precisam entender que Deus é real, o fato em si, a explicação comprovada. Ciência é revelação do projeto divino. Religião é sentimento daquilo que não se revelou.