Amontoados de concretos rústicos,
caibros, vergalhões desnudos compõem a paisagem de algo em construção ou já
desconstruído pairando a decomposição ou composição artesanal por mãos cansadas,
mas persistentes que forjam na dureza do aço e no molde da massa de cimento
casebres que se entrelaçam por vielas estreitas como buracos de minhocas
revolvendo a lama passando por fossa aberta, abrindo picadas bem estruturadas,
corredores, labirintos rebentando num meio fio malfeito duma esquina qualquer
asfaltada pelas benesses de um político local, pelo cachê eleitoral,
pavimentando aquela pobreza; concretando a independência; dando rumo ao destino
das famílias que glorificam Deus no céu e o bendito aqui na Terra. Pisou no
barro uma única vez e amaldiçoou de fato aquele dia fatídico que tirou o brilho
do seu reluzente sapato de verniz preto, mas como se mantêm com muitos votos de
pobres coitados prometeu a Terra Prometida com flores e frutos. Só alegria e
fartura. No dia em que foi empossado jubilou seus comparsas festejou sua posse
até amanhecer e se esquecer do dia em que pisou no barro.
Enquanto a mulher grávida com chinelo
de dedo desgastado caminha desviando de buracos, nóias entrincheirados, mato
florescendo por acaso no meio da rua, ao seu lado dois pirralhos e um no colo
seguem em procissão até o próximo posto de saúde para averiguar se prenha como
está, tudo bem está com o rebento que traz no útero ainda em tempo de maldizer
o pai. De um único filho é sua barriga – diz o médico. Não se esforce tanto,
mantenha-se hidratada e alimentada. Ela volta esperançosa de mais um auxílio do
governo que desta vez sobrará pra fumaça que adentra a carcaça em loucura que
satisfaz. Dentro dela um outro, que ainda nem sabe ser outro. Aprende a lição.
Que há um mundo dentro e dentro disto o outro, que não é o mesmo, somente outro
incondicionalmente nada ver com ele. Ainda não rasgou o umbigo para saber que
cindirá dele mesmo. Separarei inevitavelmente. Da inevitabilidade do ser
fragmentado, observamos. Na hora certa, o
ser expele do racho um sanguinolento de braços e pernas em movimento que chora
esbravejando o seu lugar naquele momento. Reclama sua posição, exige a
relutância da vida como nada mais importa, a não ser, esse choro minguado para
aqueles babacas no vidro prensar bochechas e beijos como na vitrine do zoológico.
Fora do peso, mirrado, fica incubado para ser ovacionado como atleta do
futuro, que venceu a morte – desde espermatozóide – nasceu imprestável e hoje
continua imprestável. Pobre, pardo, segurador do saco, vendendo felicidades
ilegais, acreditando que lhe ensinaram vencer sendo vencido. Apenas a crença
quando na realidade em pé, tomando tapa na cara dos gambé, sendo humilhado e
destituído de qualquer emoção, sempre gritando em seu ouvido que não tem valor
e repetidamente dizendo que é trabalhadô. Mas livre é, e nem vai
aceitar...então...A história se repete. O guarda esbofeteando a cara do moleque.