NÃO SEJAMOS HIPÓCRITAS

LICHTENSTEIN, ROY


Temos a impressão que o Brasil é o país da impunidade. Atualmente temos presenciado investigações no alto escalão da política brasileira onde alguns figurões e mega empresários são alvos de denuncias por crimes que nos deixam cada vez mais convencidos da podridão que circula nos meandros do Poder. Apesar de tudo, ficamos com a sensação que vai “acabar em pizza” e o Brasil continuará como o mesmo de sempre. Mas, não é bem assim.

A realidade brasileira é muito assustadora diante das estatísticas.

Quando nos referimos aos crimes cometidos por réus denominados “colarinho branco”, isto é, pessoas de notória estima política ou financeira não temos dados suficientes para quantificar as sentenças punitivas, mesmo porque é uma situação extremamente nova, veja bem, quando digo “nova” quero dizer sobre a revelação para a população, através de ampla cobertura da imprensa. De qualquer forma, representa um grande avanço para nação já que, há uns dez anos atrás, nem investigação era realizada.

Por outro lado, considerando informações do Centro Internacional de Estudos Prisionais, do King’s College, de Londres somos o terceiro país no ranking mundial de maior população carcerária, atrás apenas dos Estados Unidos e China. De acordo com os últimos dados fornecidos pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) o número de presos no país chegou a 715.655 sentenciados em privação de liberdade. O Estado com maior população carcerária é São Paulo, com 204.946 presos, seguido por Minas Gerais, com 57.498, e Rio de Janeiro, com 35.611. A menor população carcerária é de Roraima, com 1.676 presos.

O sistema carcerário brasileiro tem capacidade para 357.219 presos, portanto, o déficit nacional é de 358.436 vagas.

Conforme estudos realizados, no universo prisional brasileiro os pardos eram, em 2012, maioria no sistema penitenciário com 43,7% de presença nas prisões brasileiras. Os de cor branca 35,7 %, os negros 17%, a raça amarela 0,5% e os indígenas 0,2 %.  O nível de escolaridade entre a maioria dos presos é o Ensino Fundamental Incompleto (50,5%). Do restante, 13,6% tinham Ensino Fundamental Completo, 8,5% concluído o Ensino Médio, 6,1% analfabetos. 0,9% haviam chegado a Universidade sem concluí-la. 0,04% concluíram o Ensino Superior e 0,03% chegaram a um nível acima de Superior completo.

Outro importante dado é que os jovens são maioria nas prisões brasileiras. Jovens de 18 a 24 anos representam 29,8%, seguidos pela faixa etária de 25 a 29 anos (25,3%). Do restante, 19,1% entre 30 e 34 anos, 17,4% entre 35 e 45 anos, 6,4% entre 46 e 60 anos e 1% acima de 60 anos. 1,2% não informaram.

O perfil do preso brasileiro se mantém há anos entre os jovens, pardos e de baixa escolaridade, sobretudo, pessoas economicamente desfavorecidas. Os grandes ladrões, verdadeiros responsáveis pelas estatísticas estão fora delas porque jamais serão presos.

O crime no Brasil, principalmente pela organização que dia a dia adquire, movimenta verdadeira fortuna. Colocarei em ordem crescente o valor em reais que cada crime movimenta ao ano no Brasil

- 150 milhões de reais: roubo a banco;
- 600 milhões de reais: roubo de veículos;
- 1 bilhão de reais: roubo de cargas;
- 1,2 bilhão de reais: tráfico de maconha;
- 5,2 bilhões de reais: tráfico de cocaína.

Por mais que o governo e órgãos públicos se esforcem para criar políticas de combate aos entorpecentes jamais vencerão a guerra, pois os verdadeiros responsáveis pela gigantesca estrutura organizacional nunca serão identificados. Apenas o pequeno traficante, pulverizado no varejo, é que receberá a culpa e será condenado, na grande maioria pobre, pardo e semi-analfabeto.

O tráfico de drogas é uma atividade tão rentável que somente perde para a exploração do petróleo.  Tudo isto por um motivo muito simples: NÃO HÁ COMO ACABAR COM O CONSUMIDOR.

Vamos parar com a hipocrisia e encarar a realidade. A batalha contra as drogas – da forma que se engendra – é uma guerra perdida, pois a ponta que sustenta a corda nunca se rompe: o consumidor. Enquanto houver consumidor haverá a venda.

O pior é que muitos dos crimes que ocorrem no Brasil como, por exemplo, roubo; furto; roubo a bancos e outros, estão relacionados ao tráfico de drogas. Porque financiam diretamente o tráfico ou servem como meio para consumir o produto do tráfico.

Em todo o mundo, apenas três países produzem cocaína – e todos fazem fronteira com o Brasil. Bolívia produz 100 toneladas ao ano; Peru produz 200 toneladas e Colômbia, 500 toneladas ao ano. O Paraguai, que também é nosso vizinho, é o principal fornecedor mundial de maconha, produzindo 3.000 toneladas ao ano.

A geografia do tráfico de entorpecentes necessariamente tem o Brasil como ponto estratégico e logístico para distribuição para América do Norte, Europa, Ásia, África e Oceania, sendo que uma grande parte se distribui no interior do próprio país.

Como se vê, acabar com as drogas é impossível. Estamos observando uma escalada crescente do crime organizado no país, tudo porque não temos coragem de encarar o problema dos entorpecentes.

Não minha opinião deve ser legalizada às drogas. O Estado, através de seus órgãos constituídos e imbuídos de fiscalização e poder de polícia devem controlar a venda, distribuição e qualidade da droga no país.

O controle passando para as mãos do Estado não só acabaria com o crime organizado, conseqüentemente diminuindo a violência criminal, como, principalmente, controlaria eficazmente os usuários, desenvolvendo políticas públicas de prevenção e assistência para os narcodependentes.

Obviamente, que passando o controle ao Estado haveria controle de qualidade sobre a droga comercializada de maneira a minimizar os efeitos maléficos. Além disso, teria um cadastro de todos os usuários (faixa etária – proibido para menores -, geográfica, econômica e nível cultural) controlando a quantidade e periodicidade do uso semanalmente conforme as necessidades de cada cidadão. Aquele que ultrapassasse o nível considerado prudente seria monitorado com trabalho psicológico, medicinal com profissionais especializados.

Aqueles que hoje são reféns do tráfico seriam reaproveitados para trabalhar com carteira assinada, direitos trabalhistas, e cursos dos riscos e nocividade do uso inadequado da droga.

Encarando o problema realmente como é, podemos transformá-lo em algo menos nocivo e civilizado, diminuindo vertiginosamente a violência que lhe acompanha.




FONTES DE CONSULTA: