O VELHO E O MOÇO


DUCHAMP MARCEL



Quê se aproxima primeiro?

A nevasca truculenta revolvendo a vida como ninharia
Ou
Este velho coração que não se surpreende com nada mais, nem mais se enche de alegria?

Quê se aproxima, de lá no horizonte, correndo desenfreado?

O trote do cavalo selvagem destemido, liberto, tomado de ousadia
Ou
A Lança que perfurará esta velha carcaça desacreditada e sem forças para lutar?

Quê vem de longe, marcando passo, margeando o espaço?

Será à vontade e o triunfo que unidos em punhos potentes destroem paredes
Ou
Indolência e pusilanimidade que lançam este amorfo ente na depressão de um profundo precipício?

Quem vem me visitar, neste dia de hoje?

Amores, os filhos, alguns poucos bons amigos, a felicidade de regozijar-se com suas presenças
Ou
Ostracismo, reclusão do espírito num sarcófago aquecido e confortável?

É mesmo dicotômico,
Esta mocidade, esta velhice,

Ambos se cruzam, se enviesam,
Dedicam-se em deixar pegadas, com rastro da certeza que por lá passaram,

E caminhando...


De mãos dadas reiteradamente treinam esquivas para adentrar o octógono e lutar contra a morte até a morte.