GOGH, VINCENT WILLEM VAN
Quatro horas da manhã – chove, chove,
chove. Lúcia Carioca esta no posto de enfermagem sempre com seu crochê na mão.
Menina esperta aproveita cada minuto do seu tempo.
O SORO ACABOU - grita o pacienta na
calada da noite.
Lúcia levanta da cadeira, sai de sua
letargia, vem andando, cambaleando. Interessante, a obrigação, o dever do
profissional de ficar acordado e o morfeu mais poderoso cobrando o seu período
que é seu por direito, com permissão dos deuses. É importante o respeito pelas
trevas, o silêncio, se deixar ficar em repouso no aconchego do lar.
Vivos, semi-vivos, reis e mendigos –
o período em que o sol se esconde deveria existir uma magia. A lua quando
começa a apontar no infinito também deveria trazer uma fumacinha, um pozinho e,
como nos contos de fadas tudo deveria parar.
Tudo isso para falar da Lúcia
Carioca, da imagem que em mim ficou vendo Lúcia olhar para um lado, para o
outro, parar aqui, parar ali. Aonde naquele momento seu espírito estava? Será que
tinha ido a algum lugar para refazer suas energias? Será que tinha chegado?
Eu estava lendo, abaixei a cabeça
para ela não perceber que eu estava olhando meu sorriso. Minha alegria de
participar daquele momento foi grande.
Lúcia que por força da profissão
nunca dorme em casa. Trocou o dia pela noite. Trabalha em São Paulo, trabalha
em Santos. Seu corpo gostaria de ter se adaptado a essa rotina numa boa,
mas...eu vejo, eu percebo que, por melhor alto astral...a noite exige respeito.
Deveríamos fazer uma prece homenageando sua chegada.
30.09.1998
Autora: ANA ORNELAS