SOU UM CARA SEM GRAÇA

FU BAOSHI


Impressionante como a alma humana se diverte com tão pouco. Pequenas sutilezas que perduram a eternidade de um segundo fazem o espírito sorrir. Com um contentamento que não cabe dentro do peito o corpo em gargalhadas passa. Adiante, o momento fugaz, outra cena quase nunca engraçada. O sorriso engessado no rosto expressa felicidade falsa nas profundezas. Não quer deixar a bola cair, o contagiante momento feliz acabar. Mas é o fim. Fim do sorriso, fim da graça, não há expressão que disfarça a chegada da dor. Pusilânime se ostenta o sorriso no canto da boca do pé rapado escorado no batente do bar fedendo a mijo de uma maltrapilha mesa de bilhar onde quatro pinguços descamisados encaçapam sofreguidões com perícia de esgrimista. São bolas pares e ímpares que resgatam o orgulho de um homem feliz. E o pé descalço com sonho de vitória vende do saco pra um engomado um pouco mais de sorrisos encapsulados na vertente aspirada daquele tino. Que aspirar encontra toda felicidade dentro do som do seu automóvel que se move em devaneio pelas ruas com limite de velocidade. Beijando a boca da mulher mais ou menos amada resplandece em euforia de uma alegria que não vai ter fim até a próxima ressaca. O automóvel escorrega em farpas desliza beligerante, sorrindo pra próxima vítima. Na outra ponta, no fim da estrada, outro sorridente passante. Numa alegria que contagia mergulhou de cabeça na etílica euforia de aproveitar mais este raro momento do último carnaval. São tantas as bondades desta alegria que nem freio, nem rima quer ficar pra trás. Atravessa a rua com a felicidade que lhe cabia e numa desenvoltura insólita é abaloado pelo carro do alegre beijador da boca da quase namorada e que bem antes contentou o pé descalço com uma dinheirama que lhe fez sorrir. Aqui foi o fim do sorriso, da alegria, tudo passageiro. Marcou pra sempre, pra todo o resto. O Carnaval para este cadeia, para aquele o fim.


ESTA É UMA OBRA IMAGINÁRIA, QUALQUER SEMELHANÇA COM CASOS REAIS É MERA COINCIDÊNCIA.