LASAR SEGALL
Estava refletindo sobre o fim das ideologias.
Desde a derrubada do muro de Berlim; fim da Guerra Fria com a desintegração da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas); o mundo não mais dividido entre comunistas e capitalistas; no Brasil, o fim da ditadura militar, por outro lado, a crescente globalização dos preceitos ideais de convivência social criando Leis Universais para uma enorme gama de ações e omissões humanas estabelecendo, com algumas exceções, um entendimento generalizado do que é bom ou ruim; do certo e errado em todo planeta. Por estas reflexões e outras pensei não mais existir aquele ímpeto de lutar por uma causa ideológica que valesse a pena, principalmente no Brasil.
Entretanto, ao final de minhas inquirições cheguei a conclusão de estar errado. As ideologias não acabaram, apenas se diversificaram.
Antigamente tínhamos algumas poucas ideologias que se destacavam e dividiam o mundo em dois grandes blocos. Hoje, são milhares de ideologias espalhadas pelos mais variados cantos do planeta. Alcancei tal conclusão especialmente após assistir a aula do Prof. Clóvis de Barros Filho que sintetizou formidavelmente o significado de ideologia como sendo a forma ideal que cada pessoa quer que seja o mundo e as coisas ao seu redor.
Sendo assim, ideologia esta presente em qualquer sociedade organizada a partir do momento que escolhe seus representantes políticos baseado em desejos e vontades de como querem viver. Em outras palavras, é impossível dissociar o natural processo político do cidadão da crença numa ideologia, hoje diversificada em muitos assuntos, sejam ambientais, feministas, libertários, capitalistas, tecnológicos, etc.
Atualmente, percebo um aumento nas ideologias religiosas que tentam impor através de preceitos e normas seus ideais de convivência social. Algumas destas ideologias são defendidas com tal tenacidade que se transformam em atos radicais de brutal violência, constatadas pelos grupos denominados terroristas.
Qual será a ideologia brasileira?
Para responder esta pergunta ponderei as formas pelas quais o brasileiro gosta e quer viver.
Inicialmente o brasileiro não é apegado às tradições. Conhece superficialmente sua própria história e considera pouco importante a relação entre passado, presente e futuro. Conforme o dito popular: "quem vive de passado é museu" e "bola pra frente".
O brasileiro não é um povo de grandes ambições. Aliás, tem certa desconfiança e menosprezo pela riqueza. Considera a humildade uma virtude. Não almeja muito dinheiro, apenas o suficiente para prover suas necessidades e diversão mensal.
Tem desconhecimento e ceticismo em relação a Ciência, por isso não atribui valor a formação escolar, tampouco, considera importante uma formação acadêmica de qualidade.
O brasileiro entende que para prosperar é essencial ser esperto, criativo nas improvisações, aprender a malandragem da vida, ser "safô", "ligeiro", maneiras muita mais eficazes que teorias chatas de intelectuais impossíveis de compreender.
Prefere empregos medianos, de baixa complexidade pois são menos trabalhosos e não requer maiores responsabilidades.
Não pensa na origem e na causa das coisas, mas querem solução. Sempre encontra solução paliativa para conter os efeitos, é o que importa.
O povo brasileiro é desinformado das leis escritas, na verdade, jamais vai perder tempo lendo chatíssimos e desinteressantes Capítulos, parágrafos e incisos. Importante é ter bom senso e exigir direitos conforme a conveniência ou costume local.
O povo brasileiro quer segurança pública e entende que a melhor maneira de se alcançar este objetivo é através do encarceramento. Quando a população carcerária abarrotar os presídios é legítimo que a polícia se encarregue "de limpar" os bandidos pegos em flagrante delito. Não precisa nem prender. Somos um povo que defende a repressão e execução, pois a prevenção é considerada pífia.
O brasileiro não compreende o recolhimento de impostos, pensa que serve apenas para encher o bolso de algum político corrupto. Portanto, em todas as classes sociais engendra uma maneira de driblar ou sonegar impostos. Por outro lado, exige um Estado paternalista que conceda gratuitamente todo tipo de assistência.
Política é entendida como uma atividade distante do dia-a-dia da vida normal, não é para qualquer cidadão, mas para um restrito grupo de pessoas. Bom político é aquele que tem desvio de caráter nos padrões normais de aceitação, somado ao trabalho que gere obras materiais de algum proveito da comunidade.
Enfim, penso que estas são algumas características da ideologia brasileira. Diante disto, temos como resultado: Anões do Orçamento, Lula, Mensalão, Dilma, Operação Lava Jato e, finalmente, Datena candidato a Prefeito de São Paulo.