OSWALDO GOELDI
Algo recorrente em minhas observações é a solidão.
Quão poderosa discrepância se estabelece fervorosamente...
Diante de imensos congestionamentos, multidões, opiniões, ruídos, móbiles, engarrafamentos, cruzamentos, olhares, pensamentos atribulados e atribuídos ao dia-a-dia corrido duma convivência inevitável de tantos indivíduos que interagem, aproximam, extravasam, conversam, distraem-se, perdem-se, se afastam, pensam, sentem, brigam, sangram, nascem, compartilham, amam, concordam, ignoram, comem, rezam, morrem, seduzem, internalizam....
Sempre, ao final, sozinhos...
Quem são esses homens ou mulheres que doam vida à Vida?
Que passa por todas estas cabeças? Todas estas que perambulam por cada avenida, viela, beco, favela, cidades imensas, lugares ermos, populosos, populados, distantes, esquecidos...
Que cada íntimo pensante vislumbra diante de tudo e de si mesmo?
Que faz do mundo senão uma engrenagem concomintante de pequeninas catracas engendradas por correias dentadas que movem o grande mecanismo?
Que dizer do ser só? Que é, senão, solidão na multidão?
Não por falta de oportunidade, mas por escolha inconsciente da razão pura em deliberadamente escolher fazer todas as coisas do mundo segundo o entendimento recluso de seu íntimo pensamento.
Que poder terá sobre todos os outros sua veemente conspiração se toda revolução parte do quereres absolutos da própria pessoa?
Que tão grande persuasão acarretará influência nos desígnios obscuros e íntimos das revelações e decisões do fundo de um indivíduo?
Quem será o outro senão seu próprio id?
Que será do consenso mundial, senão a perseguição do ego pessoal?
Mas, nada é uma ilha. Nenhum ser cresce sozinho. Até mesmo uma ilha é cercada e provida de uma abundante diversidade de vida que a torna possível existir. Nem mesmo uma ilha se sustenta sozinha. É parte de um aglomerado de coisas sozinhas.
Mesmo o deserto é desertificado por bilhões de grãos individuais. Além dos grãos existem tantos outros animais que solitários coexistem em um ambiente inóspito duma persistente vida possibilitada pela cópula com outros solitários da mesma espécie.
Entre muitos e o fundo de nós mesmos, o conceito.
Solidão. Condição absoluta, necessária e estimuladora do compartilhamento entre todas as pessoas da importância em estar juntos.