A VIDA QUE COGITA E SE AGITA

                                                                                                                            YAYOI KUSAMA



O inseto em sua trajetória vai de encontro com o vidro do automóvel, se esfacelando O cachorro atravessa a movimentada avenida sendo atropelado. O pombo fraco amassado por rodas aceleradas. A barata pisada por um sapato.  O elefante morto com um tiro no crânio. O micróbio assassinado pelo bactericida. A árvore derrubada por uma serra elétrica. O João morto com uma faca no coração. Os dentes da morte abocanhando a vida.

Trajetória de encontro com o vidro,
O inseto em seu automóvel,
Não usou o cinto.

Numa movimentada avenida,
atravessou desatencioso,
O animal que vinha em alta velocidade,
O atropelou fatalmente.

Pobre, coitado lhe passaram a perna,
Tiraram tudo que tinha,
Achava fazer parte,
Mas se deu mal.

Foi humilhado, pela força da farda,
Desferiu tapa, se disse ordem,
Entendendo-se maioral,
Impôs a moral como quem se pisa,
Numa barata.

O dinheiro em grandiosos volumes,
Corrompendo homens probos,
Gente grande, ilibada,
Acima de qualquer suspeita,
Enorme morte moral,
Um tiro na cabeça da alta sociedade.

O narcotraficantinho de merda,
na soleira do beco, impávido,
faz contenção, se alegra quando,
reprime, interroga com ar necessário de patente alta,
um zé ninguém de região diferente do que se vê,
só pra garantir que quem manda nem sabe em quê,
quando chega a  hora de ser trucidado pelos órgãos saneadores.

O Ser que na favela tem brio, moral, ideal,
quer família sólida, honesta,
sem recursos, no meio da pobreza,
intenta o correto, a linha reta da estrada certa,
Ocorre que a serra corta no tronco,
não importa raiz a enorme árvore tomba,
o menino que se acreditava esperança, entra pro crime,
esta desolado e amontoado na carpintaria do ilícito.

No coração uma esperança ou desilusão.

Infarto ou não dependerá da sua visão. A miséria ou o quê fazer com ela ?!


Que fazemos nós diferentes de reles animais ?! Neste mundo de selvagens?!