SPINOSA

                                                                                                                     NUNO RAMOS


Se estou dentro de tudo, deste universo, nesse mundo, em meio a muita gente, tantas coisas além de mim, muito maior que eu e você,  imensurável entre o céu e a terra e além...do  visível...Um buraco raso ou negro onde o evento escorre por entre os dedos num ponto de conjecturas tais que chamamos singularidade na linha do raciocínio absurdo onde podemos atribuir infinitos astros, entes, galáxias, somos então PARTE. 

Concluo de maneira incontestável ser apenas um pedaço de alguma coisa maior que abrange tudo ao meu redor.   Sim, de fato, se estou inserido num mundo de milhares de indivíduos e outros milhões de elementos, todos e tudo conectados numa indecifrável lógica da única certeza de compormos a divina e superior arquitetura das pequenas e grandes partes que unidas são todas necessárias com igual grau de importância para formar a máquina total de movimento perpétuo. 

A Vida manifestamente me diz que sou, tão somente, um importante indivíduo parte do coletivo onde guardo relação com todas as outras partes ao redor de maneira que afeto os outros com tanta intensidade com que os outros me afetam.

Tudo que sinto depende diretamente e intrinsecamente de outra coisa além de mim. 

Se conceituo o paladar entre bom ou ruim é porque experimento o gosto de algo fora de mim.  Se sinto cheiro é porque alguma coisa afeta meu olfato. Se vejo é porque a luz reflete em meus olhos e enxergo o objeto refletido. Se ouço é porque alguma coisa vibrou em ondas sonoras nos meus ouvidos. Se sinto é porque alguém ou alguma coisa me fez sentir. Eu próprio sei que sou o aglomerado de tantas células e átomos que dissociadas não seria eu. Tudo, portanto, é o encontro do outro.

O barco não navega sem o mar. O mar não existe sem a Terra. A Terra sem o Sistema Solar e assim por diante ad infinitum. Digo mais, seu humor não existe se algo não afetá-lo. Amor só existe pela coisa amada; raiva pela coisa odiada; beleza pela coisa bela; tristeza pela coisa triste; alegria por algo alegre.

Nada existe sozinho, são afetações recíprocas e continuadas. Se não fosse o conjunto não existiria as partes. Relações de encontros que constroem o todo.

Este é o princípio do Deus vivo. Necessária existência de todas as partes que inter-relacionadas transcendem e alcançam à forma do Deus imanente, aquele que compreende a si completamente pelo entendimento de todas suas partes individuais.

Cada indivíduo constrói seu ser a partir das relações que faz com o mundo. Como são  relações infinitamente possíveis temos infinitos indivíduos. 

Estes todos indivíduos reunidos formam uma construção maior que denominamos onipresente, onipotente e onisciente.


Deus é o entendimento de todas relações possíveis.