FU BAOSHI
É possível não ter valor na vida?
Durante muito tempo me ocupei em
refletir quem sou, por que sou, quem são todos, por que somos tantos, qual
segredo encoberto, o que significa a vida?
Foram anos de indagações inconclusivas.
Quando pensava estar próximo de uma revelação, muitas outras obscuridades se
avolumavam como nuvens negras que escureceram a visão e me lançaram,
reiteradamente, na dúvida.
Minha obstinação, entretanto, em
querer descobrir a verdade diante de um mundo que parece saber apenas mentir foi
muito maior, a ponto de impelir o desbravamento da mata fechada em busca de uma
clareira ideal para repousar meu corpo cansado.
Quanto mais adentrava a selva dos
meus instintos selvagens maiores eram as ameaças e perigos. Os outros animais
que coexistem neste vasto e diversificado bio-sistema são tão igualmente
instintivos e indomáveis que a beligerância fática dos acontecimentos se
mostrava como algo iminente.
A batalha que se trava entre nós
consigo mesmos e entre nós e os outros e outras coisas é tão palpável e real
que o medo age como segurança à preservação da vida impedindo de seguir em
frente.
A importância em fazer à vida sentido
numa busca pessoal é por demais valiosa que jamais será preterida mesmo diante
do desafio que se apresenta, de maneira que, todo e qualquer ser humano
continua sua persistente caminhada clamando, avaliando, atribuindo valor para
todas as coisas.
O valor é uma abstração conceitual de
realidade urgente e indissociável da arquitetura cerebral e emocional humana.
Tudo absolutamente pode e deve ser
avaliado num escrutínio diário infinito da vida pensante de um Homo sapiens aos
Humanos Modernos.
Tudo absolutamente está enquadrado
inevitavelmente numa escala do menor ao maior; do muito importante ao pouco
importante ou nada importante. Tudo absolutamente pode e deve ser julgado
segundo o valor que contem em si, cujo intrínseco valor é produto do conceito
humano por si só entendido como importante valor humano.
Nada escapa ao olhar crítico da
consciência de valor. Toda e qualquer ação ou omissão humana é tomada
levando-se em consideração o valor que dela se espera, seja por uma avaliação
valorativa exclusivamente pessoal; seja por dimensão do valor que a sociedade
atribui ao ato. Sejam as duas coisas concomitantemente.
A ideia de valor é norte, parâmetro,
bussola, causa de todos atos e afecções humanas. O valor move e perpetua a
consciência e, também, a inconsciência.
Absolutamente tudo é comparado,
analisado, confrontado, escolhido conforme o valor atribuído pelo ente que recebe
e emana esse mesmo valor. O ser racional valoriza de forma pungente, cogente,
ininterrupta todas as coisas pelas quais seu ato é fruto.
O valor existe, mas o Ser Humano usa
equivocadamente.
Esta é a tese que pretendo
desenvolver em capítulos posteriores...
Espero conseguir explicar na
amplitude que merece a concepção ampla e profunda da mesma maneira em que se
revela na minha alma.
Mas, antecipo aos apressados a
resposta da pergunta inicial.
A vida seria melhor se não tivesse
valor...