GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO IV

IBERÊ CAMARGO
IBERÊ CAMARGO


O QUARTO DIA – SURGIMENTO DO COSMOS


ELE era TUDO. Seu interior múltiplo composto por todas as coisas fragmentadas pulsava eternamente completo por infinitos sentidos do que outrora era destituído de sentidos. Era agora ação em contraposição à inércia. O Todo se movimentava dentro de si como antes, mas diferente. Antes do início era coeso e linear, agora despedaçado em geometrias tridimensionais e além. ELE era diferente e oposto apesar de estar tudo contido em si. O manejo de suas partes e a força reveladora intrínseca em cada um de seus pedaços revolucionava o sistema em enxurradas de percepções, mas o conjunto contemplava em profunda reflexão.

ELE compreendeu que os opostos coexistiam intimamente e necessariamente ligados por elos infindáveis onde se formava uma teia imensurável do seu próprio ser. Refletiu que aparentes dicotomias não convergentes eram lados ou faces convergentes de um mesmo móbile. A substancia entendeu melhor afastar em espaços distintos aquilo que lhe representava de bom daquilo que lhe representava de mau, soprou profundamente de modo que cada maior e menor parte movimentaram-se de um lado e de outro. Cada qual com sua característica e personalidade correu para o grupo que lhe continha e nasceu dois grandes conjuntos de tudo que dava vida e movimento para ELE. A isto denominou construção da psique e daí fez nascer Gaia donde dela tudo começava e também terminava.

Reuniu cada indivíduo, cada elemento, cada personalidade segundo critérios destrutivos e construtivos.  

De um lado colocou tudo que agregava, somava, adicionava, construía, atraia, englobava, acolhia, recebia, aumentava potência de agir, concebia, nascia, amava, unia, multiplicava, ligava, alegrava...e deixou aos cuidados de Hemera e ao governo de Eros sua fruição.

De outro lado colocou tudo que desagregava, diminuía, subtraia, destruía, repelia, desaglomerava, desacolhia, cedia, diminuía potência de agir, abortava, morria, odiava, desunia, dividia, desatava, entristecia...e deixou aos cuidados de Nix e ao governo de Tártaro sua fruição.

E deixou Gaia - a mãe eterna - responsável em aproximar e apaziguar seus filhos: Hemera, Eros, Nix e Tártaro que eram absolutamente opostos em ações, mas essencialmente ELE. Gaia ficou incumbida da tarefa de zelar por cada um, respeitando cada qual seu jeito, equilibrando os conjuntos num ponto único de intersecção. Exatamente neste ponto surgiu do ventre de Gaia uma imensa força. Foi concebida mediante muita dor e também felicidade. Tal força era composta por Philia e Neikos responsáveis pelos quatro elementos fundamentais: Terra, Ar, Água e Fogo.


Dos quatro elementos essenciais materializou-se o Cosmo e tudo que está dentro Dele.