LUGAR DE NEGRO É NA SENZALA

CÂNDIDO PORTINARI
CÂNDIDO PORTINARI
                                                                                                      



A verdade é a seguinte: NEGRO NÃO É GENTE, é uma reles coisa. Caso o negro seja saudável e forte é uma bela propriedade, serve bem para pegar no batente da enxada.

Negro bom é negro que trabalha no pesado e não se cansa. Serve só pra isso, mais nada.

Negro, negrinho, negrinha, pode até ser engraçadinhos, mas não tem que ter direitos, no máximo a gente (brancos) concede pouco de alimento -  sem fartura - pra eles trabalharem felizes o dia seguinte...

Assim tem que ser com essa gente, se bem que nem devo chamar de gente...

 Com certeza o que acabaram de ler causou tão grande indignação que se pudesse encontrar pessoalmente quem escreveu seria capaz de enforcar com as próprias mãos...

De pensar que o Brasil de 1530 a 1888 adotou este pensamento como a coisa mais natural do mundo. Vivia o auge da escravatura, onde semelhantes da pele negra foram violentamente obrigados a sustentar a produção extrativista do País.

Construíram uma economia próspera com a força de seus corpos: físico, emocional, intelectual e espiritual -  desapropriados indevidamente pela mesma espécie – que se achava diferente.

É repugnante o que um ser humano é capaz de fazer com outro. Infelizmente estas realidades têm que acontecer para que a espécie humana progrida.

Atualmente é inaceitável a discriminação racial, inclusive elevada à categoria de crime, que representa uma ofensa social relevante. Entenda bem, CONTRA TODA A SOCIEDADE, não apenas contra o grupo atacado.

A sociedade amadureceu, compreendeu, progrediu. Mas nunca é o suficiente...

Também tivemos desrespeito às mulheres, às crianças, aos velhos, aos presos, aos estrangeiros, aos nativos, aos optantes sexuais. Enfim, a lista é longa e inesgotável.

Sempre o Homem predador cruel de si mesmo.

Atualmente, existem várias Leis - no Mundo - que impedem atrocidades conceituais. Mas, ainda assim, vemos uma escalada crescente da violência em razão de conceitos equivocados do homem sobre o próprio homem.

Matamos porque é pobre, bandido, bicha, maconheiro, preto, crente, descrente, estrangeiro, nacional, polícia, traficante, oriental, ocidental, mulher, a puta que pariu...

Matamos porque não concordamos, ainda que concordemos, não faz parte do meu grupo...

Matamos porque é estranho...não matar...

Assim, escravizamos nós todos em grilhões que machucam, ferem todos os tornozelos daqueles que se movimentam. Independente de raça, cor, sexo ou credo, todos saem machucados.

Entretanto, assim o Mundo opera o progresso: na tentativa e erro. Importante é tentar acertar.

Hoje é dia da Consciência Negra. Em muitos Municípios é ponto facultativo ou feriado. Essa pausa no dia de trabalho serve para todas as pessoas refletirem sobre o que estão fazendo de suas vidas e do próximo.

Será que somos justos conosco e com os outros?

Devemos nos questionar sobre a condição humana, não apenas com relação aos negros, mas, principalmente, com toda forma de vida que nos é contemporânea e diversa.

É um dia para refletir sobre a existência humana. Quem sabe desta forma poderemos amenizar este clima violento que assola a Terra.

Tenha suas próprias razões - sem perder de vista a tolerância (um ato nobre) – e reflita sobre sua causa no mundo.


É o que desejo neste dia.