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LYGIA CLARK |
Sou uma pessoa que busca se expressar da maneira mais
verdadeira que posso encontrar.
Não é tarefa fácil porque muitas vezes enganamos a nós
mesmos, inventamos mentiras para aquela pessoa chamada “EU”. Ludibriar meu ser,
em momento oportuno, é a melhor forma de escapar e se esconder daquilo que
enxerga, sente medo, não quer confrontar. Protege-se por trás da pessoa que pensa,
mascarando a pessoa que É.
Ser Eu absolutamente autêntico não é politicamente correto.
Ser Eu verdadeiramente, não é uma realidade. Há tantas coisas em jogo...
Meu parceiro de xadrez é burro, mas é meu melhor parceiro. Desatento
faz jogadas descabidas, porém me confunde.
Os outros que, também, convivem com o mesmo duelo, apontam as
falhas no jogo do outro.
Assim ficam todos disputando consigo mesmos num espaço
coletivo onde cada qual tem sua mesa com o tabuleiro armado, administrando o
tempo de cada jogada.
Nos concentramos em nosso jogo, porém, sempre há tempo de
espiar o jogo alheio. E comentar.
Aquele que se põe em Cheque, geralmente é de se admirar.
Todos outros voltam seu olhar a Ele, admirando-se da proeza. Entretanto, o
Cheque Mate nunca acontece. As pessoas perdem o interesse, em algum momento do
jogo.
O jogo prossegue conforme observações daquele exato instante
real com presunção dos fatos ficcionais. Então, movemos a peça pelo que de fato
o jogo apresenta, mas por circunstâncias inventadas pela imaginação.
Quase nunca a projeção se adéqua perfeitamente, porque o
futuro é o segundo que nos escapa previsão. Isto porque o outro joga com
oponente imprevisível. Da imprevisibilidade das ações o jogo é perpetuamente
uma surpresa.
O compartilhamento coletivo dos jogadores e seus tabuleiros
incentiva a criatividade de novas jogadas.
P.S. – Não gosto do Face porque nele se suprime o jogo de
xadrez.