AVENIDA

IBERÊ CAMARGO


Pela janela do meu quarto vejo a rua
O asfalto preto margeado pelo passeio acidentado
Os carros vorazes sobre a terra cimentada
Vejo os passos cadenciados de um casal andante
A cidade sob o céu brilhante
Vejo bocarras cheia de dentes
Compartilhando o mesmo barco
Toda essa gente que espera no ponto
(Em igualdade de preferência, no respeito de sentar no banco reservado, descansar acomodado no que lhe cabe)
O ônibus passar...

O amor se aproximar, um conhecido desembargar
A felicidade alcançar, a hora de trabalhar
Os filhos que deixamos no lar
Um velho amigo, um antigo desejo
Um conflito, o mais sublime sentimento
Um ser ausente de tudo isso
Perdido em seus próprios pensamentos
No ponto...

Pela janela etérea a mim espreitam
Com olhos meus e tantos outros quanto possíveis
Sob o céu estrelado
Lá debaixo enxerga o quarto, lá bem alto no edifício
Curioso se lança em hipotética imersão
De lá do passeio, no banco cimentado do ponto de ônibus
Visualiza, receia
Margeia as ideias alheias...