COMO O SOL E A LUA

ALEKSANDRA WALISZEWSKA



A violência pode ferir ou atrair. De modo geral, a violência propriamente dita, causa-nos repulsa e reprovação. Entretanto, há um lado da violência atraente e sensual. Vivemos constantemente sob os dois aspectos aparentemente dicotômicos da violência: a reprovação e a atração.

Sofrer violência ou vivenciar de forma direta e real uma atitude violenta é inaceitável, já que afeta diretamente nosso físico e moral, destituindo-nos de civilidade, estima e força.

Por outro lado, deparar-se com a violência de forma indireta, seja através da ficção, ou mesmo como expectador, desperta no nosso íntimo a veneração e a força vital da renovação e capacidade.

Quem ao assistir um filme violento, de massacre, morte, violência cruel e desnecessária cometida pela legítima argumentação do mocinho que faz a coisa certa, não sente uma ponta de contentamento e veneração?

Quantos se embrenham no caminho do crime ou seitas radicais em busca de se vangloriarem da violência que adotam como maneira de criarem sentido para a própria vida a partir de um sentimento avassalador de potência?

Qual cidadão consciente, comedido, cuidador da retidão social um dia já não quis ter uma arma na mão para desferir contra um desafeto qualquer usando de todos os requintes de crueldade possíveis apenas para depois cuspir no cadáver com um leve sorriso no canto da boca e inflar o peito com o orgulho por defender sua moral?

Quantas notícias violentas são manchetes pelo fato de serem sanguinárias o suficiente para atrair a atenção de todos?

Ninguém fica indiferente a violência, seja contra ou a favor.

A violência induz coragem.

Refletindo sobre isto alcancei uma dedução contrária e tão óbvia que me pareceu ser a análise mais sensata que fiz até então...

A violência é tão sedutora pelo fato de sermos, ao menos a maioria, grandessíssimos COVARDES.

A violência nos redime desta real e insofismável constatação.  

Não enfrentamos nosso chefe, por pior que ele seja, somente para mantermos nosso emprego. Não enfrentamos o político ou a política por medo de desestruturar nossa linha estável. Não enfrentamos o vizinho hipócrita com a intenção de manter a civilidade. Não falamos as verdades na cara dos amigos e colegas para não perder a consideração. Não chamamos atenção dos nossos entes queridos por medo de perder o amor. Não nos aventuramos no desconhecido, não nos arriscamos, não ultrapassamos a linha do conforto apenas por medo de perder a zona de estabilidade.

Somos essencialmente medrosos, por isso a violência deixa-nos perplexos. Por isso, os mocinhos violentos do cinema são tão varonis, pois nos resgatam da letargia do medo. Por isso um Astro tem que ter um quê de violento.

Ora violência...rogamos por distância dela, mas a queremos tão perto.