ALEKSANDRA WALISZEWSKA
O bisavô era ladrão. O avô era malandro. O pai vagabundo:
tinha treze filhos com quatro mulheres diferentes. Da primeira mulher teve
quatro filhos. O primogênito era um alienado, bicho do mato, ignorante como
homem das cavernas. O segundo – mulher - tinha alguma responsabilidade. O
terceiro: vagabundo. A quarta e última, também mulher, era pilantra e safada da
pior espécie.
A Sagrada Mãe, mulher forte, criava todos os filhos com o amor que
não lhe era próprio; com a moral que não tinha, dando educação que nunca teve.
A Mãe era uma gata, cada semana tinha um “Homem” diferente. Era
daquelas prazerosas fêmeas que sempre estava no cio. Era também uma galinha,
protegia seus filhotes criando rinha em qualquer local e momento. Mexe com o
filhote que bicada e pena acontecia para todo lado.
Daquelas mulheres que não
leva desaforo para casa.
Era o dia do vigésimo oitavo aniversário da Santa Mãe. O terceiro
filho: vagabundo, decidiu homenagear sua amada Santa Mãe: roubou oitenta quilos de
carne do açougue que ficava num “bairro rico” do outro lado geográfico.
A Mãe ficou felicíssima da vida, abraçou, beijou o filho e
disse: Vamos dar uma festança. Convide os nossos amigos para uma churrascada.
Foi o melhor dia da vida. Fecharam a rua. Toda comunidade
reunida, as crianças felizes, se divertindo com o dono da festa que distribuía brinquedos
roubados, cerveja a vontade do caminhão sequestrado. Virou o dia, adentrou a
madrugada. Uma roda de samba animava a festa enquanto pessoas muito sérias
conversavam sobre assuntos muito sérios e decidiam a vida ou morte de alguém.
A festa acontecia, o samba rolava, a desenfreada volúpia fornicava,
porém, tudo dentro do código de ética amoral daquela selvageria cognitiva.
Desfrutavam felizes, alegres, completos num bando selvagem de
animais racionais, enquanto, o outro bando: dos animais civilizados, dormiam amedrontados.
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