REFRATÁRIO

JOAN MIRÓ


As imagens embaçadas surgem. Ao longo da projeção elas adquirem coesão e ofuscam a visão. Firmo os olhos, comprimindo-os diante do invisível obtenho efeito risível às sucessivas imagens que se sobrepõem umas às outras em frenética correria que faz da cadência uma invertida de situações. Quem outrora era mocinho passa ser bandido, ou vice-versa; o ferro enferrujado vira aço inoxidável, ou vice-versa; o lado contrário do verso transforma-se no avesso do anverso.

Engraçado como uma situação trágica vivida no passado pode ser tão comicamente presente nas alusões exemplificativas de quem um dia fui e, de agora em diante, serei o ser diferente do que lhe faço parecer ser o mesmo de sempre.

Aquilo tudo que antes vivi sou eu exatamente agora, de uma maneira tão diferente que me surpreende contar o que eu sabia confrontado com que hoje sei do que antes conhecia. Parece surgir um conhecimento novo ao propor acareação entre o que hoje sou diante do outro que já não sou mais.

Apesar de ser sempre o mesmo me perco no que sou agora e no que antes fui eu mesmo. Neste interrogatório de luzes claras em meus olhos ofuscados, o ambiente escurece.

Inebriante sensação da confusão gira em torno das minhas... pessoa como indivíduo que divide propostas múltiplas entre tantas variáveis de um único objeto.

As incursões e viagens internas são tão pessoais que cada qual adota o cartão postal preferido. Entre os países, os mundos de si mesmo orbitamos necessariamente coletivo.

No íntimo múltiplo germinamos um caminho. Nos encontramos sozinhos em meio essa toda gente que cria e pensa em si e no outro.

Replicantes de nós mesmos subtraímos aquilo que nos interessa para manter o que interessa a muitos. São muito poucos que multiplicam o que não tem valor para diante da dor em conhecer-se único jamais repetir aquilo que os outros esperam encontrar em ti.