O CANIBAL DENTRO DO AÇOUGUE COM VÁRIOS CORPOS PENDURADOS E SANGRANDO AO GOSTO FERROSO E OCRE DA VISÃO

CLAUDIO TOZZI



Nos consumimos de tantos modos
Acostumamos a devorarmo-nos
Engolir sem mastigar
Comer até empanturrar
Saborear sem alimentar

Nós, consumidores de tantos produtos
Produzimos quintilhões de bens
Desenfreadamente vorazes
Nem o fruto, nem o bruto, nem o substancial
Nos satisfaz

Comemos entes sempre cheios de si
Devoramos gente que nem cabe na gente
Como quem se lambuza do cereal matutino
Lambemos o beiço
Aguardando o próximo provir

Se nasce em ti ou cresce em mim
Ineficazes são os argumentos
Porque se explora desde o intestino
Defender-se, correr ao encontro do futuro
Nem que pra isso seja necessário
Cagar na sua cabeça.