MANUEL DOMÍNGUEZ SANCHEZ
Sobre Deus
DEFINIÇÕES
II. É dita finita em
seu gênero uma coisa que só pode ser limitada por outra de mesma natureza. Por
exemplo, um corpo é dito finito, pois sempre concebemos outro maior.
Igualmente, um pensamento é limitado por outro pensamento. Mas um corpo não é
limitado por um pensamento, nem um pensamento por um corpo.
Explicação
Interessante esta
proposição da finitude. Parte da premissa de que atribuímos limites à coisa por
causa da comparação, isto é, dizemos que uma pessoa é baixa pelo fato de
existir outra mais alta. Dizemos que uma montanha é de altitude alta, pelo fato
de existir montanhas de altitudes mais baixas. Dizemos que algo é belo em
comparação a algo feio.
Em qualquer caso, a
ideia de limite, o conceito de finitude das coisas ocorre pela comparação entre
coisas do mesmo gênero.
Entretanto, não
fazemos comparação entre coisas físicas e coisas abstratas. Nossa capacidade de
comparar limites e finitudes ocorre entre matéria x matéria ou abstrato x
abstrato. Por exemplo, um sentimento pode ser comparado em tamanho com outro
sentimento, mas nunca um sentimento com um corpo.
Pode-se até usar
linguagem metafórica para expressar o tamanho do sentimento, porém o
significado restringe-se ao próprio sentimento, por exemplo:
“Meu amor por você é
do tamanho do Everest” – obviamente está se querendo representar que se trata
de um amor muito grande, mas não que guarda as mesmas proporções que a
montanha, pois o amor não se mede.
Por outro lado,
podemos comparar um sentimento com outro sentimento, de modo a limitar um
deles, por exemplo: “meu amor por você é maior do que meu ódio”, desta forma se
imprime um conceito mais exato do limite daquilo que se sente.
Da mesma forma que
uma coisa pode ser limitada por outra coisa, por exemplo: “esta cadeira é menor
do que aquele armário”, demonstrando, desta maneira, o limite dos objetos.
Portanto, concluímos
que o limite nasce da comparação com objetos de mesma natureza e gênero. Porquanto,
a conclusão mais surpreendente que se afere desta premissa é que a ideia de
limite, finitude nasce da comparação, de modo que se não tivermos outro objeto
de mesma natureza e gênero para comparar, não conseguimos estabelecer seus
limites.
Por exemplo, o
Universo. Observando o manto negro do Universo, sem que haja ponto de
referência, parece ser infinito, pois não há nada semelhante a ele que possa
ser comparado.
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