JOSEF ALBERS
Numa
reunião sobre educação, um jovem professor se levantou e disse: "Há
escolas que são meramente extrativistas". Ante a perplexidade geral, ele
esclareceu que se tratava de unidades que sugavam o que os docentes traziam de
sua formação inicial na universidade, mas não agregavam nada que os fizessem
aprimorar o seu trabalho.
Ao
ouvi-lo, pensei em uma escola que visitei em Xangai. Vi lá professores dando
aulas, mas também debatendo em grupos. Quando quis saber o que faziam, foi-me
explicado que preparavam em conjunto planos de aulas, mostravam-nos aos colegas
que não participaram da reunião e depois os convidavam para assistir às suas
aulas. Quando perguntei se todos permitiam que outros professores assistissem,
eles estranharam minha pergunta. Todos, por que não? É a melhor maneira de se
aperfeiçoar como mestre.
Cada
professor tem também um programa de estudo –dentro da escola. Normalmente
coletivo, o estudo desdobra-se numa série de textos a serem lidos e palestras
que um professor faz aos demais. Além disso, a escola constitui um espaço de
pesquisa aplicada, com a ajuda da universidade.
No
caso dessa escola, a Universidade Normal de Xangai é responsável por coordenar
pesquisas aplicadas, envolvendo os professores e a direção. Essas pesquisas
dizem respeito a problemas concretos sentidos pelos docentes em sua prática
cotidiana. Perguntei por exemplos de pesquisas e a diretora citou dois deles:
dificuldades com disciplina no sétimo ano e como promover a criatividade no
ensino de cada matéria.
Realmente,
essa escola não tem nada de "extrativista". Ela investe na formação
de seus professores, de forma não paternalista, fazendo-os se sentir como parte
integrante de uma coletividade que aprende e pode, assim, tornar todos melhores
profissionais. Não por acaso, Xangai se saiu como um dos melhores sistemas de
educação no Pisa.
A
realidade brasileira é bem diferente e não cabe uma transposição mecânica do
que fazem outros países, mas certamente poderíamos nos desafiar a pensar a
escola como um espaço de construção coletiva e de formação de seus próprios
professores. Reservar o tempo de atividade extraclasse para formação, pesquisa
aplicada, com ajuda da universidade e planejamento conjunto, centrado no
trabalho a ser feito em sala de aula, é um bom caminho.
Finalmente,
caberia aos secretários e diretores criar condições para que isso ocorra,
ampliando o espaço interno de trabalho coletivo dos professores e equipando-o
com computadores, mesas individuais e de reunião, material de pesquisa,
inclusive digital. Sem isso, as escolas certamente serão percebidas como
extrativistas...
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