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VICK MUNIZ |
Artigo escrito por
FÁBIO BIBANCOS, dentista, é presidente do Instituto Bibancos de Odontologia e
da ONG Turma do Bem. Publicado no Jornal Folha De S. Paulo, em 17/05/17, na
seção OPINIÃO.
Uma placa na entrada
dá as boas-vindas: "Olá, você está no Museu da Corrupção Brasileira. Aqui
encontraremos os diferentes modelos de corrupção, conheceremos as distintas
formas de pagamento de propina, as CPIs que nunca deram em nada. Saberemos como
funcionaram os conchavos, as censuras e como a população brasileira foi atacada
e afetada pelos seus governantes. Mais de 500 anos da história da corrupção
nacional".
Parece loucura?
Acredito que não.
Inspirado por algumas
instituições - Museo Memoria Y Tolerancia (Cidade do México), Memorial do
Holocausto (Berlim), Topografia do Terror (Berlim), Museu do Nazismo (Munique)
e até mesmo o Memorial da Resistência, aqui em São Paulo-, formulei o Museu da
Corrupção Brasileira, que funcionaria em benefício das próximas gerações e
mostraria ao mundo o quanto (e como) perdemos com nossas perversões políticas.
O museu teria o mesmo
propósito de outros tantos pelo mundo: expor, registrar e deixar claro os erros
do passado e do presente.
Políticos,
empresários e figuras públicas são flagrados diariamente em esquemas de
corrupção. Raramente algo acontece com eles.
Identificar em um
museu os personagens envolvidos nessas práticas ilícitas talvez possa aplacar,
ao menos em parte, a sensação de injustiça que paira sobre o país.
Quem sabe ainda sirva
de lição aos próximos que tentarem se valer de métodos escusos? É preciso
começar já.
Com o apoio de
historiadores, antropólogos, cientistas políticos e sociais, jornalistas,
médicos, juristas e até dentistas -e amparado por um conselho ético, composto
por integrantes de esquerda, centro e direita-, o museu poderá utilizar o
arquivo de jornais e TVs, com notícias de corrupção veiculadas diariamente no
noticiário político.
Os políticos nunca
param. No âmbito da imoralidade, são incansáveis. Quantos nomes teremos nas
próximas listas? Qual o tamanho necessário de nosso projeto?
Obrigatoriamente, o
museu seria visitado por alunos de todo o Brasil, de escolas e universidades,
que lá teriam a oportunidade de entender as consequências dos abusos de
governantes.
Além de evidenciar os
diferentes meios e os principais baluartes da nossa corrupção, já consigo
imaginar alguns espaços do museu, nos quais os visitantes, incrédulos, irão
vivenciar o que é uma fila do SUS, terão que encarar os desafios de um
transporte público que teve verba superfaturada e passar por vielas das regiões
periféricas, com esgoto a céu aberto e violência escancarada. Os conhecidos
resultados da corrupção.
A ideia está longe de
promover um linchamento de gestores públicos que operam de forma nociva.
Trata-se de evidenciar como esse comportamento prejudica a população
brasileira.
No saldo da
corrupção, deixamos de ser cidadãos, direitos humanos são esquecidos, e o país
fica cada vez mais longe dos ideais de justiça e solidariedade.