SEXTO - IRA




Não imaginava que o nascer do sol no deserto pudesse ser tão espetacular....é realmente algo grandioso. Esses meses em bādiyat ash-shām tem me feito muito bem. Estou livre dos tormentos de Shaitan.

Da minha infância tenho muitas recordações e quase todas são muito tristes. Uma que trago com vividez dos acontecimentos, ocorreu em outubro de 2002, eu tinha oito anos. Lembro-me perfeitamente da data porque estava assistindo à televisão que anunciava a ascensão de Muammar al-Gaddafi, a notícia me chamou muito atenção.

De repente ouvi minha mãe gritar no quarto. A porta estava encostada e quando levemente empurrei para ver o que estava acontecendo, flagrei minha mãe de cócoras escorada na penteadeira e meu pai currando-a por trás.

Lembro dele dando um berro e arremessando o vidro de perfume na minha direção. Acertou bem no meio da testa e eu caí no chão. Minha mãe correu ao meu encontro recriminando-o por ter feito aquilo.

Era um homem rigoroso, mas infalível, era um bom pai. Sempre me dizia: Não importa o que vai fazer, seja o melhor naquilo que escolher. Aquelas palavras martelavam nos meus ouvidos...bem que tentei, juro, como tentei...

No esporte eu era uma negação. Ele queria que eu jogasse bola, mas eu tomava dribles das garotas do sexto ano. No ensino médio me aporrinhava perguntando das namoradas, porém sempre fui muito acanhado, as garotas não se interessavam por mim. Quando eu tinha dezessete anos me deu aulas de direção, queria que eu fosse um grande piloto. Na primeira vez que me entregou a direção eu bati o carro dele no poste. Decepcionei meu pai muitas vezes...

No início da minha juventude acompanhava-o nas reuniões com seus amigos, ele era todo orgulho, mas começaram a falar que eu era estranho, tinha jeito efeminado. Nunca mais me levou para suas reuniões.

Arrumei um emprego no restaurante, até ia bem, mas meu pai desqualificava o serviço dizendo que não passava de ajudante de cozinheiro.

Meu salário era baixo, ele me ajudou financeiramente até sua morte. Nunca vou esquecer quando em seu leito de morte disse que me amava, apesar de eu ser um fraco.

Hoje, tenho certeza que se orgulharia muito de mim. Aqui sou respeitado, tratado como um homem deve ser tratado.

Amanhã um grupo vai tentar retomar Mossul.

Disseram que reservaram uma missão especial para mim, algo muito digno, de importantíssima ação, à altura do respeito de Alá.


Estou treinando muito para a missão que ocorrerá mês que vem quando vou me encontrar com uma célula que já está na França.