VENENO




Minha barriga queimava muito, era uma ardência insuportável. A dor era infernal que me pus a caminhar, na esperança que cessasse aquela queimação. Mas tudo parecia muito diferente, inédito.

Não me lembrava de situação semelhante, ou talvez...não, creio que jamais dor antes havia vivido, naquela intensidade.

Tentei correr, mas meus movimentos eram lentos e desordenados. Com muita tontura andei cambaleante por uns três ou quatro metros.

Fiquei estatelado no chão de barriga para cima. Foram horas de agonia. Olhei para minhas pernas, quase que involuntariamente se agitavam no ar com a esperança de abanar minha barriga cuja ardência aumentava como ácido sulfúrico.

Uma das pernas estava lameada com uma gosma pegajosa branca, espessa. No que a perna se agitou lançou naco daquela substancia bem na minha cara.

Aquela porcaria fedia à amônia e tinha um gosto indescritível, levemente adocicado. Grudou na minha boca como cola e começou a derreter minha mandíbula.

Lembrei das estórias do Vietnã que ouvi por esses muitos becos que andei. Lembrei nos relatos da “napalm”, uma bomba que queimava até a morte.

Jamais imaginei na vida que um dia eu teria um fim tão trágico. Sentia uma sede insuportável, parecia que todo meu interior estava ressecando. Eu queria apenas uma gota de água.

Minhas pernas já se balançavam lentamente, estava muito fraco, apenas espasmos ocasionais mexia uma delas.

Mas a queimação, a sede, continuavam intensa. Comecei a rezar para que dessem cabo logo da minha vida. Preferia mil vezes uma morte rápida, ao invés daquela tortura. Implorei a Deus que me levasse de uma vez.

Olhava aquele céu azul com lindas nuvens brancas, tão distante. Queria estar lá, bem longe deste sofrimento.

Algumas horas se passaram até que finalmente ele me ouviu.

Uma imensa sombra apareceu no céu e o dia virou noite. Aquela sombra de tamanho estratosférico ficava cada vez mais próxima e enegrecida. Sabia que era a solução para meu problema, ainda assim um calafrio correu do meu rabo ao final da minha antena. A sombra chegou perto ao ponto de eu identificar que na verdade se tratava de um solado marrom com sulcos ondulados e algumas rochas encravadas em seu vão. Foi a última coisa que pude ver.

A dor acabou agora posso ir para o céu.