O DIA QUE ANTECEDE O AMANHÃ

EGON SCHIELE


Entre tantas pessoas
Sendo uma só pessoa
O desafio é contentar a todos
Contentando-se a si mesmo.

Não há explicação
Nem mistério que prescinda dela
Porque toda revelação velada
É Ministério da invocação
Imprescindível do oculto
Culto à alguma divindade
Que restabeleça a verdade
No íntimo do enigmático indivíduo
Que por sua própria natureza padece no coletivo.

E os rochedos intransponíveis
Com suas grutas ocultas
Seus altares naturais
A vida que surge e morre em suas dobras
Em sua abundante terra árida
Segue o tempo indefinido
Segue concisa linha do imprescindível.

E quando as portas se abem
A visão é estarrecedora
Muitos homens emergem
Outros tantos se afundam
Porque a distância entre subir e descer
É proporcionalmente idêntica.

E se lhe cobro o juízo de amanhã
É porque o perdi lá atrás
Numa nuance ilibada
Do conceito admissível
Devemos corrigir os desacertos
Entretanto como um círculo
Sem começo nem fim
A história inicia e acaba do mesmo jeito.

Por que tudo que me foi dito direi a você?
Porque devo transmitir o melhor de mim
E o pior de mim também
Porque, naturalmente
Não sou eu quem escolho, nem você
Um Deus qualquer nos ensinou
Ser aquilo que sabe quem deve ser
Sabendo que é quem não pode ser.