Autor:
RUY CASTRO
Leio no jornal que os
locutores russos na Copa do Mundo estão em apuros para pronunciar o nome do
goleiro português Rui Patrício. Parece que Rui, em russo, é um palavrão
cabeludo designando o membro sexual masculino. É o nosso popular “cara...”.
Digo popular porque, de alguns anos para cá, “cara...” tornou-se lugar-comum
nas melhores famílias brasileiras. Mas, na Rússia, chulices ligadas aos órgãos
sexuais continuam de mau gosto.
Com isso, segundo li
na reportagem de Fábio Aleixo, Rui Patrício teve a grafia de seu nome alterada
de Xyй —que é Rui com o som de dois erres, configurando o palavrão— para Pyй,
que, pelo que entendi, leva o som do erre para entre as duas vogais e resolve o
problema. No Brasil, tivemos caso parecido, o de um mafioso siciliano que andou
aprontando por aqui nos anos 70, de sobrenome impronunciável na televisão:
Tommaso Buscetta. Os locutores tiveram de acrescentar-lhe um agá, tornando-o
Buschetta, a se pronunciar Busqueta.
Ao ler o texto de
Aleixo, lembrei-me de que tive um livro, “Carnaval no Fogo — Crônica de uma
Cidade Excitante Demais”, sobre o Rio, publicado na Rússia em 2005. Como os
russos teriam feito com o meu nome, também Ruy, só que com ípsilon? Fui à
estante, achei um exemplar e lá está ele, na capa e na lombada: Pyй, com a
grafia adaptada para ser considerado aceitável em sociedade. Isso significa
que, se um dia for a Moscou, poderei andar pelas ruas de cabeça erguida, sem
ser confundido com o dito cujo.
No passado, quando
ainda havia certo recato na fala brasileira, Leila Diniz despejava palavrões
com doce naturalidade e nem sempre era compreendida. Certa vez, diante de uma
amiga, também atriz, exclamou: “Fulana, isso assim-assado é o ‘cara...’!”. A
outra se chocou: “Mas o que é isto, Leila?!”.
E Leila: “Ah, você
sabe muito bem o que é. Só não está ligando o nome à pessoa!”