KARAKUM
Eu vi as bolas de
fogo caindo do céu
Pensei: será o fim do
mundo
Ou mais um dia negro
que deveremos superar?
Mas, ao tempo em que
todos corriam
Aquele senhor sentado
na varanda
Lia tranquilamente
seu livro.
Pensei: coitado não
está vendo
Senil não passa de um
desavisado
E as bolas de fogo
queimavam tudo ao redor
Pessoas gritavam,
corriam desesperadas.
Não posso partir sem
antes lhe avisar
Devo por moral e
ética tentar
Retirar o velho do
seu sono.
As chamas alcançavam
as casas
E a casa ao lado da
do velho ardia
Nada ele via
entretido
Com a maldita folha
do livro.
Hesitei por minutos a
largar tudo
Ou avisar o velho e
correr riscos
Gritar bem alto não
adiantava
Era surdo, nem dava
ouvidos.
O velho permanecia
intacto
Enquanto o inferno
queimava ao redor.
De súbito, com a
energia da minha juventude
Lancei pernas no ar a
correr
Com fúria e rapidez
cheguei ao homem sentado
Vamos embora velho,
você não pode ficar aqui parado.
Ele me socou com um
soco tão forte
Que me arremessou do
outro lado da varanda
Tranquilamente disse
Deixe-me, fuja você
das bolas de fogo
Deixe-me
tranquilamente queimar
Sossegadamente, em
paz.
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