KÄTHE KOLLWITZ
Quase tudo mudou
E mudou tão
rapidamente
Que o sopro da
ventania me desequilibrou
Como desequilibrou
todas as estruturas em volta.
O mundo era perfeito,
cada coisa em seu lugar
Quando aquela enorme
onda chegou
Rebuliçando tudo numa
estreita colisão
Pedaços de tantas
coisas, coisas tão diferentes revolvendo
Em redemoinho foram
liquidificadas na fúria da onda
Que chegou de repente
Maltratando gente e
toda essa gente.
Todas as coisas
intactas
Já não estavam em seu
lugar
Jogadas foram pra lá,
pra cá
O violento movimento aleatório
não tinha fim.
(parecia não ter)
Até que tudo parou
O céu clareou
Não havia mar
revoltoso, nem ventania, nem coisa alguma
As coisas cada qual
em seu lugar se dispunham desordenadas
Amontoadas de
qualquer jeito
Daquele jeito que
agora parecia paz.
Pude olhar e todos
puderam também
Contar os
sobreviventes e ver entre a gente
O mar de coisas
jogadas
Aleatoriamente
esparramadas
Todas as coisas que um
dia me pertenceram
Que a tantas outras
pessoas pertenceram
E, agora, naquela
confusão de chorar
Estavam todas no
chão, sobre a mesa, sobre o telhado.
Estavam as coisas
postas à mesa
Dentro da casa, todinha arrumada
Estavam todos reunidos num prazeroso almoço em família
E, aqueles dias passaram, a tristeza se foi
Foram apenas maus dias
Transformados em lembrança.
|